segunda-feira, 23 de março de 2020

A angústia da alma

O ser humano é necessariamente o realizador responsável pelo próprio destino, cuja ignorância a respeito de si mesmo provoca-lhe dificuldades e, ao mesmo tempo, o aprendizado para prosseguir sua jornada. A enorme quantidade de opções e escolhas por onde trilhar nos caminhos da vida atestam que seu destino não está previamente traçado, nem o ser humano é títere de um deus mecanicista.
Em geral, ele busca o poder, o prazer ou a transcendência a fim de atender ao inexorável impulso para viver. Mesmo sem saber para que vive e qual o significado de sua vida, segue quase inconscientemente atendendo ao anseio coletivo do meio em que é educado. Nesta inconsciência, adquire uma angústia que se enraíza em sua essência e que lhe corrói lentamente a mente, entristecendo-o. Em sua luta contra a angústia, adquire o poder efêmero e sem sentido; para esquecê-la, nega-a entorpecendo os sentidos com o prazer barato; tenta fugir dela pela fé pueril, aceitando crenças superficiais que o levam a um vazio maior ainda.
Sua angústia solapa sua consciência oferecendo-lhe a riqueza e a ostentação, ambas de uso limitado e com o enorme potencial de adiar seu amadurecimento para o entendimento do sentido da própria vida. Vive um mundo de máscaras e de personas que dominam sua verdadeira identidade e singularidade essencial, provocando-lhe uma vida inautêntica. A angústia da alma é um tema que permanece no indivíduo, geralmente sem dela se dar conta, requerendo cura.
Entre os fatores que contribuem para a permanência da angústia da alma encontra-se a adoção a um modelo mecanicista de pensar e agir, tornando o ser humano escravo de conformidades que o atrasam e anulam suas aspirações transcendentes. Sua impotência ante a morte, não compreendendo seu significado nem aceitando a finitude do personagem que criou para si mesmo e que o representa no mundo, responde também pela manutenção da angústia.
Não é raro encontrar-se pessoas bem-sucedidas, vivendo confortavelmente, com excelente patrimônio e desfrutando os prazeres da vida apresentando uma angústia lancinante e buscando meios inadequados para resolvê-la. Muitos se viciam em drogas lícitas ou ilícitas, quando não apresentam doenças graves ou sérios transtornos psíquicos. Tem-se o exemplo dos poderosos empresários e políticos que se perderam na corrupção, denunciados pela Operação Lava Jato demonstrando que a angústia da alma só pode ser resolvida quando ela própria se conhecer e se perceber tão divina quanto enxerga seus mitos religiosos.
Para os que se encontram em angústia, recomenda-se uma vida simples, um trabalho produtivo e ético, uma família alimentada por afetos, um laser sem sofisticações e uma espiritualidade madura e preenchida de atitudes renovadas. Sair da angústia é se tornar uma pessoa humana, espiritualizada e profundamente comprometida com o bem-estar pessoal e coletivo.

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