segunda-feira, 9 de março de 2020

Diáspora da igualdade

O filósofo canadense H. M. McLuhan, morto em 1980, além de ter cunhado o termo Aldeia Global, antecipou em muitos anos o fenômeno tecnológico da Internet, que instantaneamente interligaria os seres humanos. Ele só não imaginou que, estimulada pela internet, a mobilidade, pelo desejo do ser humano em experimentar as mesmas condições que seus semelhantes, geraria novas diásporas no mundo, criando cada vez mais refugiados.
A belíssima música, Diáspora, composta e cantada por Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown, atesta este triste fenômeno. A música parece uma súplica em favor dos refugiados, cujo problema comove o mundo. Feliz inspiração desse maravilhoso trio, cuja sensibilidade toca a alma de quem consegue se colocar no lugar daqueles que se veem sem um lar, sem uma pátria ou que se encontram sem família em terras estrangeiras. Lembra-nos a saga dos judeus, que, mesmo perseguidos e sofrendo, conseguiram, ao se espalharem pelo mundo, disseminar inúmeros conhecimentos para a Humanidade. A música dos Tribalistas, como uma oração, é dirigida a Deus, questionando onde se encontraria, pois permite tamanho sofrimento porque passam os refugiados.
Eles anseiam por um lugar, como um refúgio, pois foram expatriados e expurgados sem direito a ter direito algum; apenas querem tão somente ser acolhidos e chamados de irmãos. Em geral, o fenômeno é causado por ditadores ou governos irresponsáveis e insensíveis que os expulsaram, cujo regime serve a poucos, sacrificando muitos. Ou saem em busca de outra opção além da morte, ou são por ela atingidos. São filhos da Terra, sem direito à terra ou de ocupar um lugar nela.
Por outro lado, parece que o fenômeno está associado à necessária quebra da ideia de raça pura, portanto em favor da consciência de que todos somos seres humanos, de que temos os mesmos direitos à dignidade de pertencimento e de que vivemos em um planeta desigual. A mistura de culturas se impõe contra a eugenia, a criação de fronteiras que separem pessoas ou à valorização desta ou aquela cultura em detrimento da pessoa humana. O ser humano necessita se enxergar em seu semelhante, vendo-o com a mesma lente com que a si mesmo percebe e se julga.
Creio que a resposta não vem diretamente de Deus, mas de sua mais importante criatura, o próprio ser humano que ainda necessita se humanizar. É nesta hora que é perceptível o quanto existe de pessoas que desejam religiosamente se espiritualizar sem, no entanto, conseguir se humanizar. Sim, a resposta deverá ser dada pelos seres humanos, cujo acolhimento e devolução da dignidade ao outro é um dever humanitário.
Refugiados são todos, mesmo em seu próprio lar, em sua pátria e em seu planeta, quando não se sentem pertencentes pela falta de um sentido e de um significado existencial ao não reconhecerem o outro como irmão ou ao julgá-lo sumariamente como inimigo.


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