segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Brumadinho

Tem alguém o direito de determinar o tipo de morte de uma pessoa, sobretudo soterrada em uma lama produzida em desrespeito à sua integridade e ao meio ambiente? Não deveria. A sociedade legalmente constituída e legitimada ainda por frágeis leis, continua outorgando aleatoriamente e de forma inconsequente, este direito em prejuízo da vida humana. Este poder absurdo deve ser prioritariamente extirpado sob pena de a lamentação de inúmeras famílias se tornar um mantra diário. Até quando crimes serão cometidos sem que se tomem adequadas providências?
Não se trata tão somente do aperfeiçoamento de controles, licenças ou de modernas construções tecnologicamente edificadas, mas da outorga sobre o próprio destino humano. É preciso que cada indivíduo assuma a propriedade de sua vida, não mais permitindo que seu destino esteja submetido à incúria de alguém.
Certamente, um dia, o ser humano entenderá que tudo que faz, portanto, toda atividade que executa, remunerada ou não, interfere na vida de alguém. O destino de uma pessoa sofre a interferência das ações de outras. Um caixa de um mercado, uma bordadeira, um professor, um agricultor, em engenheiro, um médico, um programador de computador, portanto, qualquer que seja a profissão que se exerça, atinge a vida e o destino de outros seres humanos. Por esta razão, desde cedo, ainda criança, todos deveriam ser educados para a consciência desta responsabilidade. Não devemos entregá-la tão somente aos que se encontram no comando de atividades de risco ou ao Estado.
Se minha vida também está nas mãos de outra pessoa, cuja atividade não se encontra sob a mira de minha fiscalização, então o que faço tem a mesma relevância, cabendo-me executá-lo com o máximo de cuidado e com o dever de sinalizar quando me parecer vulnerável ante novas variáveis intervenientes.
Mesmo que protocolos sejam seguidos, ainda que o cumprimento de ordens superiores seja obrigatório, todos devem estar atentos ao aprimoramento na execução de qualquer atividade dirigida a outro ser humano. O cuidado com o que fazemos deve vir de berço, ampliado pela escola e consolidado no convívio social. Família, escola e grupo social são os ambientes em que as ideias circulam e são assimiladas. Seus protagonistas, representados pelos pais, pelos professores e pela opinião pública que circula nos meios de comunicação, carecem de atenção e de liberdade para que suas influências sejam benéficas no intuito de mudar ou melhorar a vida humana em sociedade.
A outorga do poder de determinar como morreremos está na medida de se viver uma vida inautêntica e sem sentido. A vida humana não pertence a empresas, a agências reguladoras nem ao Estado, mas ao próprio indivíduo que deve se tornar seu legítimo proprietário, assumindo seu lugar de comando sobre ela, sem prejuízo a aplicação de responsabilidades legais aos culpados.

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