terça-feira, 22 de setembro de 2015

Psicologia do não

Não gostaria de começar este artigo com um não, mas decidi por fazê-lo para reforçar a tese de que seu uso pelo ser humano é mais para fora do que para dentro de si mesmo. Costuma-se utilizar o não quando o outro parece invadir o direito que nos pertence. Este direito não é tão somente no que é legitimado pelas leis, mas o que a consciência de cada um determina e cobra. Este crivo, formador de um senso próprio de justiça, nem sempre é o mais adequado nem o melhor, pois causa excessos e exigências ao outro. É ele que forja a emissão do não ao que é encarado como falta de limites pelo outro. Isto equivale a querer negar o outro ou solicitar que o outro mude sem conseguir negar a si mesmo. O equívoco da maioria é querer mudar seu próprio comportamento negando o ato externo sem atuar na vontade ou no desejo que brota de dentro de si mesmo.
Ao contrário, quando os limites são estabelecidos pelo próprio sujeito, atuando em seu modo de ser, modelando o alcance de seus atos, dificilmente precisará brecar o outro com a emissão de um não. Dizer não a si mesmo parece ser um poderoso mecanismo facilitador das relações interpessoais, visto que permite o estabelecimento de uma área privativa pessoal tão sólida que se torna pouco provável que haja interesse de invasão pelo outro.
Em escala maior, o Estado comete mesmo equívoco quando insiste em políticas públicas que apenas propõem atuar na repressão a todo tipo de problema da sociedade sem apresentar propostas concretas que visem prioritariamente educar o cidadão. Querer conter a violência com a exclusiva melhoria do aparelhamento policial sem qualquer investimento em educação, parece ser medida paliativa que não atinge o cerne da questão. Trabalha-se nos efeitos esquecendo-se as causas. O não à violência, que parece epidêmica, deve ser seguido a um não à ignorância e às desigualdades sociais. Educar o cidadão é prioritário para que se alcance uma sociedade democrática e que haja plena garantia do direito de viver em paz.
Artigo publicado no Jornal ATarde de 22.04.2015.


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