quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Psicologia e Mitologia

Uma compreensão mais profunda da Psicologia requer um estudo de mitologia, do folclore, das religiões bem como das sociedades primitivas com seus modos inconscientes de estabelecer relações dos indivíduos entre si e com a Natureza. Em particular, a Mitologia é um campo de estudos do mundo imaginal da sociedade, composta de mitos que representam, de forma simbólica, o comportamento humano. Entre as mais próximas da cultura brasileira estão a mitologia grega e a romana. O filosofo e escritor francês, de origem argelina, Albert Camus, Nobel de Literatura em 1957, que elogiou o baiano Jorge Amado quando este ainda era desconhecido, escreveu um famoso livro intitulado O mito de Sísifo, um ensaio sobre o absurdo. O mito retrata a saga humana para se livrar da morte, assumindo comportamentos para enganar os deuses, responsáveis pelos destinos humanos. Sísifo retrata a tentativa humana de enganar, ludibriar, distorcendo a realidade em seu favor, para alcançar seus objetivos.
Por conta de sua irredutível tendência em enganar a morte, foi condenado pelos deuses a rolar uma grande pedra até o cume de uma montanha. Ocorre que, toda vez que estava para alcançar seu intento, a pedra lhe escapava das mãos, retornando ao ponto de partida, tendo ele de iniciar tudo de novo. O mito representa o ser humano que não encontra sentido para a existência, condenado a morrer depois de uma vida inteira de trabalho e, em seguida, uma velhice cansada e vazia de significado.
Num certo sentido, Sísifo é o retrato do ser humano numa sociedade injusta, cheia de absurdos, obrigado ao labor estafante, sustentando-se numa esperança que não lhe traz nada no presente, em meio a ausência de quem o conduza a um destino melhor ou que lhe ofereça uma saída mais digna para sua existência. Qual Sísifo, o ser humano se arrisca ao proteger-se em demasia, com mecanismos escapistas e mágicos, eximindo-se do verdadeiro esforço para encontrar uma saída, que certamente mora dentro dele mesmo.

Artigo publicado no Jornal ATarde de 28.01.2015.

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