
Por conta
de sua irredutível tendência em enganar a morte, foi condenado pelos deuses a
rolar uma grande pedra até o cume de uma montanha. Ocorre que, toda vez que
estava para alcançar seu intento, a pedra lhe escapava das mãos, retornando ao
ponto de partida, tendo ele de iniciar tudo de novo. O mito representa o ser
humano que não encontra sentido para a existência, condenado a morrer depois de
uma vida inteira de trabalho e, em seguida, uma velhice cansada e vazia de
significado.
Num certo
sentido, Sísifo é o retrato do ser humano numa sociedade injusta, cheia de
absurdos, obrigado ao labor estafante, sustentando-se numa esperança que não
lhe traz nada no presente, em meio a ausência de quem o conduza a um destino
melhor ou que lhe ofereça uma saída mais digna para sua existência. Qual
Sísifo, o ser humano se arrisca ao proteger-se em demasia, com mecanismos escapistas
e mágicos, eximindo-se do verdadeiro esforço para encontrar uma saída, que
certamente mora dentro dele mesmo.
Artigo publicado no Jornal ATarde de 28.01.2015.
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