sexta-feira, 19 de outubro de 2018

A Ilha

Estive estes dias em Cuba. Confesso que criei grande expectativa para conhecer o povo cubano. Fundado na ideia de que encontraria pessoas politizadas, vivendo dignamente e com alta qualidade de vida, detive-me quando percebi que a realidade era diferente. Seria pela falta de seu maior líder e mentor? Ao me deparar com a realidade, tive um misto de contraditórios sentimentos: vergonha, indignação, compaixão e nostalgia.

Inicialmente senti vergonha de mim mesmo, por me achar privilegiado. Achei-me superior por viver em um país capitalista, com grande oferta de serviços sociais, com acesso ao que o mundo moderno oferece e, principalmente, podendo adquirir livremente o que um bom salário e crédito acessível permitem. Mesmo assim, vi que é possível viver com o mínimo e com dignidade. Vi casas sem muros, janelas sem grades, ausência de policiamento ostensivo, e uma população aparentemente vivendo em ordem.

Depois do impacto inicial, fiquei indignado. Indignação, pelo que via nas ruas sem drenagem pluvial; vi uma sociedade com serviços públicos precários, prédios e monumentos mal conservados, habitações sujas, esgoto a céu aberto, carros antiquíssimos, ônibus velhos, pontos turísticos despreparados, bem como degradação de aéreas públicas que poderiam ser bem tratadas. No fundo, eu queria uma Havana bonita, com ruas arborizadas, parques bem conservados e pessoas felizes nas ruas. Mas, assim não ocorreu.

Confesso que tive uma compaixão não piedosa, mas desejosa de que todos os habitantes tivessem alcançado o que uma moderna sociedade permite obter, o que a tecnologia proporciona e, principalmente, ter a liberdade de expressão.

Depois destes sentimentos, veio-me uma nostalgia. Ao ver a arquitetura urbana, tive saudade de uma época. Senti-me nos anos sessenta, deixando-me invadir por um tempo em que havia um glamour no ar, um romantismo gostoso e uma musicalidade aflorada. Vi-me de chapéu, calça de linho e acompanhando um violão tocando uma música convidativa ao dançar. Tudo isto estava em minha imaginação, pois a realidade era outra. Não vi felicidade na face das pessoas, pois faltava um sentido maior que talvez tenha sido causado pelo isolamento provocado pelos embargos comerciais e pelas restrições políticas impostas. Mesmo assim, há de se assinalar a forma educada em tratar o estrangeiro.

Acredito que o socialismo tem muitos ganhos, superando o capitalismo, principalmente no quesito solidariedade e no retorno da valorização do humano, em lugar do dinheiro pelo dinheiro. Mas considero a livre competição como fundamental para uma melhor qualidade em tudo que se faz e se produz. Cuba, portanto, me pareceu uma ilha ansiosa por se ligar ao continente. Respeito os que defendem seu sistema político, porém, infelizmente, os resultados me pareceram cruéis.

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