sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Convulsão política

Do ponto de vista psicológico, a conhecida síndrome de pânico é uma hipersensibilidade que atinge a consciência do eu sem seu controle. Trata-se de algo que, oriundo do inconsciente, alcança a condição de realidade com reflexos no corpo físico. Os sintomas vão desde o medo sem causa aparente até o suor com desconforto torácico. Às vezes, o mal-estar provocado impede importantes atividades da vida funcional da pessoa, podendo evoluir para um surto paralisante. Nossa política parece que vive semelhante situação. O medo, a incerteza quanto ao futuro, o desconforto ético e a convulsão no mundo político se assemelham aos sintomas de uma crise ou de um episódio de pânico. Muito pouco provável que se saiba o futuro, pois a saúde do doente (o país) anda muito frágil para qualquer prognóstico.

Na síndrome de pânico qualquer remédio químico é paliativo, pois o problema não é físico, mas sim psicológico. No caso do país, a Lava Jato é como um diagnóstico com algumas medidas judicias que ressaltam o potencial da doença, porém não revela o fato gerador, pois o vírus continua solto e ativo. Ele não atinge só a classe política e dos empreiteiros, pois se alastra pelos mais diversos campos da sociedade, sobretudo onde o dinheiro, o poder e a falta de ética caminham juntos. Diz-se que o sistema é corrupto, porém não se pode esquecer que o ser humano faz o meio em que vive e é por ele influenciado. A sociedade é posterior ao ser humano, pois ela se forma no conjunto de suas relações, razão pela qual o problema não é o sistema, mas sim quem individualmente contribui para sua manutenção.

O remédio em voga, a aplicação de penas segundo a justiça atual, assemelha-se aos que são utilizados no tratamento dos transtornos psíquicos, que, em sua maioria, quando têm efeito, combatem os sintomas, sem atingir a raiz psicológica do problema. A psicologia da intolerância a qualquer tipo de crime deveria ser implantada nas escolas, sobretudo nas que se dedicam a educação infantil, a fim de se formar uma nova geração de indivíduos que, à semelhança da jovem equipe de promotores da Lava Jato, investiga detalhadamente as ramificações e raízes dos delitos e seus responsáveis.
É de se perguntar quem governará o país, já que não resta quem, da cena política atual, esteja isento de investigação.

A cabeça que venha a reinar o país segue a ideologia dominante ou a maioria popular, porém um povo sem ideologia não conseguirá, em tão breve tempo, formar um estadista que posso conduzir eticamente seu destino. Isto significa que estamos à deriva por real falta de educação política, sobretudo a que contempla ética e respeito ao bem público. Somos um país gigantesco, mas uma pequena nação que caminha sem ideologia sólida, que dê ao mundo exemplo de sua ética. Espero que a Lava Jato seja apenas o começo de uma varredura em todos os setores da sociedade, principalmente na consciência cívica de cada cidadão.

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