Sirius é a estrela mais brilhante que pode ser vista a olho nu no céu noturno da Terra. Por alguma razão, ela existe varando a imensa escuridão do Universo. O brilho de Sirius se impõe sem pedir licença, demonstrando que algo impôs sua presença ante a escuridão reinante. Quando algo predomina na Natureza, eis que surge outro elemento com sua singularidade para diversificar, expressar criatividade e eliminar toda e qualquer hegemonia. Sirius não está sozinha nem a escuridão predomina sobre a luz e sobre o brilho de uma simples estrela.
O carnaval é, ao menos em Salvador, a grande festa popular que se impõe sobre qualquer tentativa de calar a alegria inata no ser humano. No interior do psiquismo há um impulso natural para o sagrado, razão pela qual as religiões surgiram. As tentativas de sufocar as tendências instintivas humanas não foram suficientes, pois, ao lado daquele impulso natural, eis que surge um outro, desta feita para a alegria, impondo sua singularidade.
As manifestações de alegria, de vida e de desejo de superação de toda opressão à liberdade humana de ser e de existir, presente no carnaval, são atestados de que o mesmo fenômeno que colocou Sirius para se impor ante a escuridão, cuidadosamente fez instalar a alegria no interior da alma humana, para que nada nem ninguém pudesse anular a energia da vida que deseja se expressar.
As manifestações do sagrado, bem como as do carnaval não se opõem, pois ambas nascem da mesma alma que deseja se expressar e são oriundas do mesmo fenômeno que a criou. Como a energia que gera o brilho das estrelas carece de ser adequadamente conhecida e utilizada, da mesma forma, a alegria que contagia os foliões carece da devida educação para que beneficie seu portador.
O brilho das estrelas é inerente à sua essência, não podendo ser anulado. Da mesma forma, a alegria humana é de sua íntima natureza, não podendo ser reprimida. Deixemos brilhar a alegria sem que nos cegue a razão, principalmente tendo cuidado com o direito do outro.