quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Contaminação psíquica

É fácil perceber a fragilidade das mentes que se deixam contaminar pelo coletivo. O conhecido “efeito manada” costuma tocar as consciências mais frágeis que pautam suas opiniões por informações superficiais, extraídas de leituras rápidas e de fontes não muito confiáveis. Nem sempre o que se ouve, lê ou se interpreta sobre a realidade é de fato o que ocorre, pois o observador geralmente não consegue a necessária isenção em sua descrição dos fatos. Quando o assunto diz respeito a algo que toca sua emoção, cujo conteúdo sobre o qual tem-se algo contra, costuma carregar as opiniões com tons mais agressivos e negativos. Quando o famoso recalque existe, então, inconscientemente, o indivíduo tentará atender ao sufocamento do que o aflige, com opiniões em atendimento ao seu alívio.
A mentalidade coletiva pode alienar a pessoa, principalmente quando submete seu caráter a desejos escusos e ao gosto da massa ignara. Muitos atuam em conjunto, participando de grupos inespecíficos, por se sentirem no anonimato, onde se escondem por vergonha de si mesmos. As redes sociais estão cheias de pessoas assim, que se acovardam por detrás de uma tela de computador. Enquanto muitos querem ver o circo pegar fogo há os que continuam trabalhando para que o espetáculo da vida nunca deixe de acontecer. Estes não engrossam o caldo dos que anseiam pelo caos e pela derrocada dos que estão à frente. São aqueles que lutam, trabalham e se esforçam pela manutenção da vida e que não se deixam contaminar pela massificação do ser humano.
Diz-se que o tempo é o senhor da razão, porém o cidadão comum não deve esperá-lo passar, pois deve continuar trabalhando e ampliando seu senso crítico para não ser engolido pelo anseio dos que costumam dominar jogando iscas para pegar os incautos de plantão. A sociedade não pode viver de boatos e expectativas de derrocada de suas instituições seculares, mas daqueles que descobriram uma razão pessoal para viver sem se deixarem contaminar pelo catastrofismo de alguns.
Artigo publicado no Jornal ATarde de 12.08.2015.


terça-feira, 29 de setembro de 2015

Espada de Dâmocles

Paira sobre as consciências lúcidas da Bahia, outrora de tantos gênios, uma ideia dominante: os que tem poder, mesmo que legitimamente conquistado, sabem o que fazem. Pressupõem-se, por terem sido eleitos pelo povo, que agem imbuídos de dever cívico e sem interesses particulares. Porém, o que se vê na prática, é diferente. Mas, a capacidade do cidadão, sozinho ou quando representado por associações de classe, de mudar isso é inversamente proporcional à sua inércia. Não há mobilização, consciência política, exercício de cidadania nem maturidade psicológica para fazê-lo. Predomina a outorga dessas atitudes a um outro poder, alienando-se a cidadania e a própria dignidade. Se não fosse a Opinião Pública, além de poucas e tímidas iniciativas heroicas de alguns, prevaleceria a alienação típica de certos transtornos mentais. Será que o soteropolitano acostumou-se a não ser dono de si mesmo e a acreditar que não tem competência para ser cidadão? Claro que não, porém é preciso fazer algo. A ação deve começar no binômio escola/família. De um lado, a escola seria o lucus onde se implantaria e propagaria aquela consciência; do outro, o ambiente doméstico, onde a criança recebe as primeiras noções de pessoa e de alteridade. Por mais que se trabalhem outras formas e se instalem programas de enquadramento a normas de conduta, eles não serão suficientes e capazes de conter as deficiências primarias existentes. Dois programas são urgentes. O primeiro, daria acesso a dona de casa, mãe daquela criança, a programas que envolvessem cidadania e cuidado com a coisa pública; o segundo, promoveria a valorização do educador, visando cuidar dele para que se capacite mais e melhor, além do desenvolvimento de pedagogias mais eficazes. Precisamos retirar a Espada de Dâmocles acima de nossas cabeças, pois vivemos sob intenso regime de instabilidade social, ao sabor do humor e da boa vontade dos governantes. Não esqueçamos que, originalmente, a espada pairava acima da cabeça do governante ad hoc.
Publicado no Jornal Atarde de 29.07.2015.


segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Comportamento condicionado

Ivan Petrovich Pavlov, médico russo, ganhador do Nobel de Fisiologia em 1904, enunciou, anos depois, o mecanismo do reflexo condicionado, cujo princípio reza que sob certos estímulos emparelhados o organismo produz novas respostas de adaptação. Graças a este conceito, J. B. Watson, nos Estados Unidos, demonstrou a eficácia da modelagem do comportamento humano, aplicando-o na propaganda. À mesma época, o também americano, B. F. Skinner apresentou seus estudos sobre o comportamento operante e sobre superstição. Com isto, a Psicologia derivava para o chamado Comportamentalismo, afirmando-se mais ainda como ciência.
O fato é que no emparelhamento de estímulos tem prevalência o que traz a melhor recompensa. Isto não se dá apenas individualmente com os organismos, mas também com o coletivo da sociedade. O processo de  educação de uma sociedade passa por princípios comportamentalistas semelhantes. Mesmo assim há fatores que podem atuar sobre uma sociedade que fogem de qualquer previsão ou controle que a direciona para situações que contrariam aqueles princípios. Assim ocorre, por exemplo, quando uma sociedade oprimida por muito tempo, resolve não retroagir sua ira sobre o opressor. Isto pode ser visto com os judeus, que souberam e sabem conviver pacificamente com seus opressores.
Por outro lado, o ser humano obedece aquilo que determinou para si, muitas vezes atendendo aos reflexos condicionados, sem a menor consciência das influências psicológicas que recebe, agindo e reagindo qual máquina que ele mesmo fabrica. Muitas vezes, se ele negligencia uma rotina, há o risco de perder todo esforço anterior para alcançar o patamar que havia chegado. Isto implica que deve sempre, por segurança, acreditar na disciplina, na persistência e na manutenção de sua motivação. Mesmo não sendo uma máquina, nem simplesmente um animal, está sujeito a condicionamentos que carecem de mudanças para que valorize sua inteligência, a serviço de seu próprio progresso.
Publicado no Jornal Atarde de 15.07.2015.