domingo, 13 de setembro de 2015

Despretensioso encontro


Em 1907, em Viena, dois pesos pesados da Psicologia, Sigmund Freud e C. G. Jung, encontraram-se pela primeira vez e conversaram por treze horas. Neste encontro iniciava-se a consolidação dos estudos a respeito do Inconsciente. Tudo que se discute na maioria das escolas da Psicologia, baseia-se principalmente na Psicanálise de Freud e na Psicologia Analítica de Jung. Este encontro foi um marco para o nascimento de uma nova Psicologia, que a direcionou para além dos limites da Consciência. A consideração da existência e dinâmica do Inconsciente tornou-se fundamental para o desenvolvimento das ciências humanas, assim como para a Propaganda e para a Educação, além das disciplinas que consideram fundamental a questão do desejo e da intencionalidade que escapam do controle do eu. Entretanto o encontro, que consolidou a amizade dos dois, também serviu para que percebessem as profundas diferenças existentes, confirmando que, em matéria de ciência psicológica, não há unanimidade, muito menos quando se trata do psiquismo. Todos os eventos, mesmo aqueles mais corriqueiros, podem ser vistos sob o ponto de vista do Inconsciente. Isto sugere que há pelo menos duas realidades, a primeira é a que surge de imediato e que recebe a sensação e o julgamento do eu, a segunda, é a que alcança maior profundidade, a que decorre das tendências inconscientes inatas. A postulação do Inconsciente Coletivo, por Jung, possibilitou às ciências observarem que os eventos humanos, bem como diversas escolhas consideradas fruto do livre arbítrio pessoal, nada mais são do que atendimento a anseios comuns registrados na estrutura psíquica de cada indivíduo. Estas tendências inconscientes inatas nos irmanam ainda mais, pois são imperativos gravados nas raízes cerebrais que independem de etnia, credo, cultura ou gênero. O conteúdo daquela conversa, entre um judeu e um cristão, sobre o Inconsciente, simboliza e propõe a universalidade da condição humana e também a igualdade psíquica profunda entre todos.
Artigo publicado no Jornal ATarde em 14.12.2014.

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