Em 1921, numa Áustria quase totalmente destruída pela
Primeira Guerra Mundial, o romeno, depois naturalizado americano, Jacob Levy
Moreno, lançou, em Viena, o que posteriormente veio a ser conhecido pelo nome
de Psicodrama. Em seu teatro da espontaneidade, utilizando-se do improviso de
falas e de papeis, revolucionou a psiquiatria com a introdução da alegria em
suas técnicas terapêuticas. Para ele, a catarse vivenciada em papeis
previamente definidos teria efeito curativo. O ser humano necessita expressar o
que sente, não apenas pela fala, mas com seu corpo e com sua essência. Moreno se tornou o arauto de uma era em que o
corpo fala o que sente a alma. Numa época de plena ascensão do racionalismo, da
formalidade e da rigidez dos papéis sociais, ele propôs a espontaneidade. A
proposta de Moreno quebra os paradigmas que enrijecem o ser humano, cujos
conflitos carecem de expressão mais ampla, além da oferecida pela psicanálise
clássica. Em termos coletivos, sua proposta vem ao encontro do cidadão que
necessita expressar sua interioridade para que suas tensões não se transformem
em doenças que prejudiquem sua saúde nem afetem a economia. O excesso de
racionalidade bloqueia as mais livres manifestações da essência humana, pois a
vida social gera rejeições, medos e outras emoções reprimidas carecendo de
adequada expressão. Porém, a liberação instintiva das emoções, sem qualquer
filtro, deseduca pela ausência de limites e pela falta de respeito a si mesmo e
ao outro. Sim, temos que evitar o racionalismo sem o tempero da emoção, mas
também educar a expressão exacerbada dos instintos para que não se cometam
excessos com desrespeito ao outro. O ser humano deve aprender a educar suas
emoções na vivência consciente de papéis que lhe geram inúmeras tensões. A
escola, principalmente a dedicada a infância, deveria estimular o uso do
teatro, da representação, sobretudo, espontânea, para que a alma fale o que o
vida social nega que possa ser expressado.
Publicado no Jornal Atarde de 01.07.2015.
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