Não gostaria de começar este artigo com
um não, mas decidi por fazê-lo para reforçar a tese de que seu uso pelo ser
humano é mais para fora do que para dentro de si mesmo. Costuma-se utilizar o
não quando o outro parece invadir o direito que nos pertence. Este direito não
é tão somente no que é legitimado pelas leis, mas o que a consciência de cada
um determina e cobra. Este crivo, formador de um senso próprio de justiça, nem
sempre é o mais adequado nem o melhor, pois causa excessos e exigências ao
outro. É ele que forja a emissão do não ao que é encarado como falta de limites
pelo outro. Isto equivale a querer negar o outro ou solicitar que o outro mude
sem conseguir negar a si mesmo. O equívoco da maioria é querer mudar seu
próprio comportamento negando o ato externo sem atuar na vontade ou no desejo
que brota de dentro de si mesmo.
Ao contrário, quando os limites são
estabelecidos pelo próprio sujeito, atuando em seu modo de ser, modelando o
alcance de seus atos, dificilmente precisará brecar o outro com a emissão de um
não. Dizer não a si mesmo parece ser um poderoso mecanismo facilitador das
relações interpessoais, visto que permite o estabelecimento de uma área privativa
pessoal tão sólida que se torna pouco provável que haja interesse de invasão
pelo outro.
Em escala maior, o Estado comete mesmo equívoco
quando insiste em políticas públicas que apenas propõem atuar na repressão a
todo tipo de problema da sociedade sem apresentar propostas concretas que visem
prioritariamente educar o cidadão. Querer conter a violência com a exclusiva
melhoria do aparelhamento policial sem qualquer investimento em educação,
parece ser medida paliativa que não atinge o cerne da questão. Trabalha-se nos
efeitos esquecendo-se as causas. O não à violência, que parece epidêmica, deve
ser seguido a um não à ignorância e às desigualdades sociais. Educar o cidadão
é prioritário para que se alcance uma sociedade democrática e que haja plena
garantia do direito de viver em paz.
Artigo publicado no Jornal ATarde de
22.04.2015.
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