segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Nordestino

O nordestino é a representação da brasilidade e da resiliência de um povo. Foi no Nordeste, mais especificamente, na Bahia, que o Brasil começou a formação de sua cultura. Na miscigenação do europeu português com o índio da terra do pau-brasil é que surgiram os primeiros indivíduos que, ao receberem o DNA do negro africano, formariam o brasileiro de hoje. Graças a esta mistura ímpar, somos diferenciados no mundo, apresentando-nos com características faciais e culturais diversificadas.
É o nordestino remanescente dos primeiros cafuzos, mamelucos e mulatos que aqui nasceram, demonstrando que não há raça pura nem soberania pela cor da pele. Posteriormente, a imigração de outros europeus, o brasileiro foi cada vez mais se misturando sem que houvesse qualquer possibilidade de definir-se um padrão físico e genético que o caracterizasse. Somos então a melhor representação do cidadão do mundo, cujo corpo físico não representa uma identidade nem sua pele é motivo de separação e rejeição ao outro.
Dizer-se brasileiro é ter nascido em seu território, não sendo, portanto, privilégio do nordestino ou de qualquer indivíduo de outra região deste imenso país. A miscigenação se espalhou por todo território brasileiro, não cabendo a ninguém se declarar mais ou menos brasileiro nem tampouco excluir ou discriminar outra pessoa.
Deveríamos abolir a necessidade de declarar uma etnia, visto que somos todos, indistintamente, seres humanos, pessoas e filhos da Terra. Por enquanto, temos fronteiras, vivemos em países, submetemo-nos a governos díspares e não nos respeitamos em nossas diferenças. Tudo isto teria menor impacto, ou desapareceria dando lugar a uma sociedade justa e igualitária se a solidariedade não fosse uma retórica religiosa, política e de ocasião.
O nordestino não precisa de esmolas nem de defensores que oferecem sua misericórdia cristã para se vangloriarem como heróis falando em seu nome. O nordestino necessita, como todo ser humano, de respeito, atenção do Estado, e menos de governos ou políticos, para seus graves e antigos problemas, sobretudo nas áreas de educação, saúde e emprego.
Orgulhar-se de nascer em um país deve significar pertencer a um grupo de indivíduos eticamente saudáveis, sobretudo que se encantem com o exemplo que oferecem ao mundo em todos os campos em que se mede o desenvolvimento humano.
Enquanto este orgulho se basear em um nacionalismo ufanista, em vitórias televisivas para vender produtos de consumo imediato e em exposições midiáticas de poucos e esforçados heróis brasileiros que se destacam em modalidades esportivas estaremos negligenciando a formação do caráter de seu povo.
Exaltemos o nordestino, porém não deixemos de lhes reconhecer a dignidade e de terem os direitos que lhes são subtraídos em nome de uma política velhaca e ultrapassada.

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Pensamento crítico

O pensamento crítico é patrimônio desejável a qualquer pessoa madura e consciente de sua própria evolução. A imaturidade é mãe de inúmeras faltas, sobretudo a de discernimento quanto a própria limitação para julgamentos sólidos e precisos. Sem a crítica a si mesmo e às próprias ideias, por mais consistentes e bem fundamentadas que sejam, a mediocridade é caminho comum. É precisamente a cegueira na rigidez das ideias que revela a ausência do pensamento crítico, exercício filosófico necessário para o surgimento de pessoas capazes de mudar, para melhor, o mundo.
A ausência da crítica a si mesmo, revela o alto grau de alienação da pessoa quanto à ética, à renovação de ideias e à receptividade que deve pautar o diálogo com o outro. Arejar ideias é necessário ao progresso, bem como à manutenção da criatividade para a superação do atraso e da ignorância que caracteriza toda e qualquer polarização psicológica. Quem a si não crítica torna-se tirano e, ao mesmo tempo, escravo de suas próprias ideias.
A dificuldade em aceitar a crítica externa e da autocrítica, esconde o medo do enfrentamento da realidade, a ignorância sobre si mesmo e a possível perda de poder que presume ter sobre o outro, graças à boa e enganosa imagem que equivocadamente cultiva. Sem a crítica sobre os próprios pensamentos o ser humano se torna arbitrário, déspota e feitor das ideias dos outros. Trata-se de ato de humildade e de reconhecimento do direito de poder errar.
Melhor avaliar os fundamentos das ideias do que se contentar com resultados imediatos que obtém com as próprias. Quando as ideias são postas para agradar ou obter resultados que garantam a manutenção de uma boa imagem de si mesmo, falecem os objetivos para as quais foram geradas, sobretudo para fundamentar o crescimento pessoal de quem as emite e de quem as recebe.
O senso crítico é garantia de não sucumbir à ideia coletiva e de não se deixar dominar por algo que não foi muito bem elaborado, portanto, possivelmente contaminado por emoções nem sempre alinhadas com a harmonia e com o pensamento intelectual racionalmente construído. É na crítica a si mesmo que se produz o contraditório capaz de fomentar o surgimento de outras tantas ideias, fugindo da polarização do certo contra o errado que exclui outras vias de entendimento da realidade.
Uma pessoa com razoável senso crítico ao que produz, alcança a humildade e a grandeza de saber ouvir os outros, legitimando seu direito em emitir opiniões e de participar de uma convivência saudável. De um lado, qualquer tentativa de querer calar alguém ou, do outro, de tentar impor a própria fala, por mais ética e acertada que seja considerada, equivalem-se, pois decretam a falência da fraternidade e do respeito às diferenças. A autocrítica é atitude dos que acordaram para a construção de uma personalidade ótima.

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Silêncio

Todo ser humano deseja falar, expressar o que se passa em sua Consciência, exteriorizando seu mundo íntimo para alívio da tensão gerada em sua mente. Em geral, emoções, pensamentos e ideias se misturam numa fantástica alquimia que transforma a mente em um grande palco onde gritos e sussurros aparecem simultaneamente. São falas e imagens que desejam expressão para que haja pacificação interior. Não falar é adoecer a alma. Melhor seria harmonizar o próprio mundo interior, para que a expressão possa ser equilibrada e venha a sair sem a imperativa pressão que dificulta as relações humanas.
É necessário saber fazer silêncio em um mundo conturbado, cheio de ruídos oriundos de todos os lados. Mas, mais importante do que o silêncio externo, é o interno, alcançado pela capacidade de harmonizar emoções, pensamentos e ideias que fervilham em sua mente. O silêncio da alma é fundamental para um bom equilíbrio psíquico e para uma vida saudável. Fazer silêncio interior é ter a habilidade de lidar bem com o que se passa em sua mente sem julgamentos, discriminações ou receio de pensar a respeito.
Há o hábito de querer afastar pensamentos negativos como se se tratassem de males externos que podem desequilibrar a pessoa. Livrar-se do mal, aprendendo a entender sua origem e a impor-se ante o significado atribuído pela própria pessoa, não é o mesmo que, a qualquer custo, extraí-lo da própria consciência. Não temer o mal significa desmistificar seu significado, considerando-o simples contraditório interno que carece de compreensão. Não há mal externo, mas tão somente um julgamento interno promovido pelas crenças e valores pessoais.
Silenciar a alma é refletir sobre cada emoção, pensamento e ideia antes de querer sumariamente expressá-las ou de querer eliminar o que carece de acolhimento, compreensão e direcionamento adequado. Fazer silêncio interior é uma arte difícil, pois o hábito de se deixar influenciar pela tendência coletiva, aderindo ao que pretende a massa ou grupo de pessoas, é muito intenso e comum, fazendo com que a expressão natural da fala se transforme em um grito inconsequente.
Silenciar, ante situações de conflito, requer calar o impulso de dizer o que quer desmesuradamente explodir. É preciso calar momentaneamente a mente, para alinhar os pensamentos e formular ideias mais coerentes e adequadas. Muitos gritam, poucos sabem silenciar suas dores, suas revoltas e suas angústias, optando impulsivamente por projetá-las externamente em alguém ou em um alvo coletivamente execrado.
O silêncio da própria mente pode ser alcançado quando o ser humano começar a entender que ele não é o vilão da vida, que seu semelhante não é a causa de seus infortúnios e que o mal é tão somente um julgamento interno, de cunho moral, inadequado a ser ressignificado e não tornado ato. Silencie para que haja harmonização interior.

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Escolhas

Escolher é ato soberano de uma pessoa. Na hora de escolher, toda a subjetividade é considerada para que se determine a primazia de uma opção entre muitas. Considerações arbitrárias, desejos reprimidos, influências ocultas, medos e anseios participam do processo de escolha, direcionando a decisão a ser tomada. Por fim, toma-se a decisão nem sempre com a certeza de ter feito a melhor escolha. Opta-se pelo que é considerado certo, ou mesmo, pelo que se sabe errado, mas que é tido como adequado. Escolher é utilizar o instinto, a inteligência e o sentimento para o alcance do que proporcione melhor bem-estar. Porém, nem sempre estas instâncias estão devidamente alinhadas internamente. Muitos, com dificuldade de definir com precisão o que querem, optam por escolher influenciados por fatores alheios ao seu verdadeiro querer. Seguem os outros ou, mais especificamente, a alguém a quem admiram.
Compreensível a indecisão quando as opções se assemelhem ou se pareçam adequadas a partir de alguns parâmetros apressadamente erigidos. Muitas vezes, nestes casos, abdica-se da autoria consciente da escolha, entregando-a a terceiros, cuja causa se encontra na falta de amadurecimento para efetivar sua real predileção. Alguns se escondem no coletivo para escamotear sua opção, por não querer serem julgados ou criticados por uma escolha considerada discrepante ou absurda. Uma pessoa é autônoma, madura e adulta quando é capaz de justificar sua escolha e assumir as consequências advindas.
Escolher é uma arte pessoal que tem implicações relacionadas às pessoas com quem convivemos, principalmente quando se opta por algo que vai impactar as decisões dos outros. A responsabilidade é maior. Quando se tem apenas duas opções, o problema é também grande, pois abandona-se a pluralidade de possibilidades, o que poderia contemplar o atendimento a anseios mais específicos. A polarização maniqueísta de um ou outro, do certo ou do errado, do bem ou do mal, ou de qualquer outro julgamento que se faça, limita, pois excluem-se opções que atenderiam requisitos especiais de cada um. Quando se tem que escolher entre duas opções, obriga-se a aceitar tudo de ruim que apresentam.
Quando o jogo da vida nos obriga a escolher apenas entre duas opções, sinaliza para a falta de criatividade e de construir outros modelos que permitam o atendimento de opções que nos tranquilizem o mundo íntimo. Não basta escolher uma opção que momentaneamente resolva externamente nossas necessidades, pois, com o tempo, costuma ser relegada ao abandono. O ser humano sempre estará em busca de algo mais profundo e mais singular, que lhe produza o sentimento de autorrealização, razão pela qual estará insatisfeito e inquieto. Mesmo querendo mais do que duas opções, observe se uma terceira, ou outras mais, não se assemelham. Além da quantidade, a qualidade será sempre desejada.