O nordestino é a representação da brasilidade e da resiliência de um povo. Foi no Nordeste, mais especificamente, na Bahia, que o Brasil começou a formação de sua cultura. Na miscigenação do europeu português com o índio da terra do pau-brasil é que surgiram os primeiros indivíduos que, ao receberem o DNA do negro africano, formariam o brasileiro de hoje. Graças a esta mistura ímpar, somos diferenciados no mundo, apresentando-nos com características faciais e culturais diversificadas.
É o nordestino remanescente dos primeiros cafuzos, mamelucos e mulatos que aqui nasceram, demonstrando que não há raça pura nem soberania pela cor da pele. Posteriormente, a imigração de outros europeus, o brasileiro foi cada vez mais se misturando sem que houvesse qualquer possibilidade de definir-se um padrão físico e genético que o caracterizasse. Somos então a melhor representação do cidadão do mundo, cujo corpo físico não representa uma identidade nem sua pele é motivo de separação e rejeição ao outro.
Dizer-se brasileiro é ter nascido em seu território, não sendo, portanto, privilégio do nordestino ou de qualquer indivíduo de outra região deste imenso país. A miscigenação se espalhou por todo território brasileiro, não cabendo a ninguém se declarar mais ou menos brasileiro nem tampouco excluir ou discriminar outra pessoa.
Deveríamos abolir a necessidade de declarar uma etnia, visto que somos todos, indistintamente, seres humanos, pessoas e filhos da Terra. Por enquanto, temos fronteiras, vivemos em países, submetemo-nos a governos díspares e não nos respeitamos em nossas diferenças. Tudo isto teria menor impacto, ou desapareceria dando lugar a uma sociedade justa e igualitária se a solidariedade não fosse uma retórica religiosa, política e de ocasião.
O nordestino não precisa de esmolas nem de defensores que oferecem sua misericórdia cristã para se vangloriarem como heróis falando em seu nome. O nordestino necessita, como todo ser humano, de respeito, atenção do Estado, e menos de governos ou políticos, para seus graves e antigos problemas, sobretudo nas áreas de educação, saúde e emprego.
Orgulhar-se de nascer em um país deve significar pertencer a um grupo de indivíduos eticamente saudáveis, sobretudo que se encantem com o exemplo que oferecem ao mundo em todos os campos em que se mede o desenvolvimento humano.
Enquanto este orgulho se basear em um nacionalismo ufanista, em vitórias televisivas para vender produtos de consumo imediato e em exposições midiáticas de poucos e esforçados heróis brasileiros que se destacam em modalidades esportivas estaremos negligenciando a formação do caráter de seu povo.
Exaltemos o nordestino, porém não deixemos de lhes reconhecer a dignidade e de terem os direitos que lhes são subtraídos em nome de uma política velhaca e ultrapassada.