domingo, 30 de dezembro de 2018

O ano que não deve acabar

Quando se olha a vida sob o ângulo pessimista, tudo deve e precisa mudar, pois nada resta que possa melhorar ou trazer esperança. Por outro lado, sob o manto do otimismo, corre-se o risco de aumentar o perigo de não se proteger dos tempos difíceis. Porém, a vida não tem apenas dois lados. Ela é por demais complexa e curiosamente disponível a mudanças, que surpreende os pretensos legisladores religiosos de plantão. Pensar que as tragédias, misérias e doenças definem a realidade, assemelha-se a enxergá-la como um paraíso cheio de benções e povoado de anjos alados. A realidade é um ente vivo na intimidade psíquica de cada ser humano, por ele alimentado e com quem contracena para seu próprio discernimento.

Nenhum ano começa ou termina, visto que um dia, uma hora ou um segundo não modificam a realidade interior de ninguém sem que a experiência do viver lhe traga algum acréscimo de habilidade permanente. Nem mesmo sua disposição em mudar, por mais intensa e importante que seja, é suficiente para lhe acrescentar um milímetro de experiência agregadora às suas competências para viver. Portanto, a passagem de ano é simbólica, com efeito regenerador para muitos, porém, para a grande maioria, logo depois, mais um grupo de experiências estará sendo colocado no esquecimento compulsório.

A exemplo disto, estamos assistindo as entranhas do poder político sendo colocadas para fora, expostas como carnes em um açougue. É o Estado brasileiro mostrando suas feridas mais profundas, numa demonstração de que, um dia, tudo vem às claras para que a verdade surja na consciência humana. Feridas abertas só cicatrizam quando os fatores agressivos são controlados para que cessam sua ação danosa. No caso em pauta, esses fatores ainda não cessaram, pois se encontram em todos os níveis da sociedade, qual erva daninha que se instala quando o jardim é mau cuidado. Pensar que o ano acabou é tentar passar uma borracha no que ainda não foi resolvido, pois os principais atores estão em cena e, em breve tempo, aqueles que foram presos voltarão ao cenário, mesmo que nos bastidores do poder. O problema também está na fragilidade dos processos de obtenção de recursos, na concentração de poder em mãos de poucos, no pouco valor atribuído às instituições de controle e fiscalização dos poderes bem como na qualidade do eleitor brasileiro.

Não o ano não acabou, nem deve acabar tão cedo. Que ele se perpetue na dimensão do que tem sido o clamor popular de justiça, honestidade e cidadania. Todos esperam que o próximo ano seja melhor, como quem anseia por boas notícias em tempos de crise. Que venham boas notícias, mas é preciso que se esgotem as más e se estanquem as causas geradoras, pois ainda estamos na fase de descobrir o que já foi feito, sem cuidar simultaneamente da prevenção.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

O dono da festa

O Natal é a comemoração do nascimento de um judeu que fez e faz a diferença para mais de dois bilhões de adeptos do Cristianismo. Por outro lado, a passagem do Ano Novo significa a comemoração da mudança do velho para o novo, da esperança de que algo novo e bom vai acontecer em comparação ao passado, que deve morrer, sendo substituído pelo recomeço. Uma nova etapa que venha trazer melhores frutos que a anterior. Não é coincidência que as datas sejam próximas. Evocam sentimentos muito parecidos.

Para muitos o Natal evoca renascimento, para outros presentear, alguns consideram uma festa em família, confraternização, fotos bonitas, palavras repetitivas de felicidade. Nela se dá tudo que não acontece no dia a dia em matéria de expressar o desejo de felicitações em memória do dono da festa: Jesus. Esta memória se refere a que fatos da vida dele? Para alguns, ao seu sofrimento, para outros, ao seu perdão incondicional, para muitos, a sua capacidade de amar a todos. Vários são os motivos do Natal, porque muitos foram os feitos que marcaram a vida dele. Alguns apresentados de forma mítica, outros com grande possibilidade de terem sido reais.

O que mais me impressiona naquele judeu não seus feitos pontuais, mitificados ou não, nem qualquer dos milagres que tenha praticado, muito menos a sua crucificação, por mais injusta que possa ter sido. Creio que ele pagou o preço por sua irreverência e pelo inusitado de sua pregação. Para mim, seu maior exemplo, digno de ser para sempre imitado, independentemente da opção religiosa, foi sua capacidade de se autodeterminar e por uma permanente disposição em viver e realizar-se.

Sim, foi seu invejável estado de empoderamento para realizar o que se autodeterminou. Isto é fenomenal, sem menosprezo aos seus outros feitos, portanto, o grande exemplo que ele deixou foi sua enorme e constante disposição para o viver, independentemente do que o destino lhe reservasse.

A passagem para o Ano Novo, o famoso Réveillon, traz um misto de esperança, tomada de decisões importantes, abandono de velhos hábitos e confiança no futuro, sobretudo com a certeza de que o indivíduo estará sob a proteção divina.

São duas festas que produzem estados psicológicos muito semelhantes. Portanto, seja você também o dono da festa, não pelo Natal, pelos presentes, pela alegria, pelas felicitações ou mesmo pelo que doou a alguém necessitado. Nem pela esperança que permeia a passagem do Ano Novo. Tudo isto tem seu valor. Porém, seja você o dono da festa por uma vida intensa, ativa, produtiva em favor de seus ideais, sobretudo, daqueles que envolvem a construção de um mundo melhor e de uma sociedade onde sua ética seja superior e justa. Sim, a vida dele foi uma verdadeira festa interior, pois a realizou com maestria e autodeterminação. Faça o mesmo com a sua vida.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Zika e as doenças da sociedade

Sim, nossa sociedade está doente. A Zika é símbolo disto. A doença não é só a falta de infraestrutura urbana, educação, segurança, saúde ou de moradia digna. Como a sociedade se encontra, representa o estágio de desenvolvimento em ela se encontra. Porém, a doença perigosa é a falta de um sentido maior para o cidadão além daquilo que a sociedade tem apresentado. Qual a filosofia de vida que norteia as ações e interesses das pessoas que aqui vivem? Tudo indica, com exceções, que é o levar vantagem a qualquer preço com desrespeito ao direito de todos. Sem este sentido, a vida fica vazia, pobre e aberta aos desvios e doenças típicas do cotidiano da sociedade.

A sociedade é um organismo vivo que se assemelha ao corpo humano. Há um cérebro, um coração, um sangue e, acima de tudo, um indivíduo que o comanda. Metaforicamente, o sangue é o trabalho, constante que se vê no empresário, no comerciante, no servidor público, no operário de todos os tipos, portanto, na força do trabalhador em todas as suas expressões. A doença acontece quando não se quer trabalhar dando o seu melhor, quando se impõe altos impostos ao cidadão, quando o obriga a que padeça para ter acesso aos serviços públicos, quando se insere a corrupção como prática comum ou quando se restringe a liberdade de expressão.

O coração é a família, com seus vínculos, seus valores, sua condição de espaço de pertencimento e vivência do amor, cujo adoecimento ocorre quando seus responsáveis se ausentam do dever de educar e dar o exemplo aos seus filhos. O cérebro é o Estado com suas leis, com a constante preocupação em garantir o bem-estar coletivo em todos os níveis. Seu adoecimento ocorre quando pessoas, grupos políticos ou grandes empresas se arvoram em querer ocupar aquele lugar de poder e de domínio.
No entanto, a doença maior é a falta de um sentido e de uma filosofia existencial para o indivíduo que comanda o organismo, portanto, para o cidadão, verdadeiro autor de seu destino é proprietário de si mesmo.

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Violência: sintoma ou doença?

Os números não mentem. Foram mais de seis mil mortes intencionais na Bahia em 2015. A Bahia é o estado campeão em números absolutos no Brasil. Aqui se mata intencionalmente mais do que em São Paulo ou no Rio. A intenção de matar caracteriza o estado bárbaro em que se encontra aquele que assim age, distante do respeito à vida, da crença nos mecanismos legais de justiça e na capacidade de agir por meios civilizados. Será que merecemos estes números? A violência não se restringe às ruas. Está nas escolas, nos locais de trabalho, no ambiente doméstico, bem como onde esteja um ser humano insatisfeito consigo mesmo e incapaz de respeitar a vida.

Afirma-se que as origens estão na pobreza, na desigualdade social, no tráfico de drogas, na carência educacional e nas condições subumanas em que vivem as pessoas. Não resta dúvida que são fatores que contribuem para a violência e que devem ser resolvidos pela sociedade. Porém, é preciso entender que vivemos uma época de grande exposição da falta de ética e de desrespeito à vida coletiva, estampadas na mídia. Esta falta de ética, observada principalmente no mundo político, merece atenção por parte daqueles que elaboram as políticas públicas, pois o combate deve ser amplo e irrestrito.

Na mente humana há elementos que impulsionam os comportamentos, cuja origem não pertence a consciência. Nem tudo que fazemos tem explicação lógica ou mesmo que possa ser compreendido pelo que se passa na consciência. Isto não exime a ninguém de responsabilidade na prática de qualquer ato. Mesmo quando se evoca a insanidade mental de quem comete um crime, não se pode excluir sua responsabilidade nem a aplicação de algum tipo de restrição social. Portanto o problema da violência não se resume somente à melhoria na educação, mas ao trabalho conjunto de toda sociedade em favor de um problema eminentemente ético e de origem milenar. A ética deve ser inserida em todas as atividades humanas, desde o berço onde se nasce até a mais importante interação social do indivíduo. Ética em tudo.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Vaidade

Sou uma pessoa vaidosa. Minha vaidade é estrutural, pois é antiga e atinge disposições internas que determinam meu modo de viver. Mesmo considerando que minha imagem física não é fora dos padrões de normalidade, minha vaidade não se refere às características estéticas de meu corpo, nem tampouco diz respeitos as vestes de marca ou adereços que uso. Muito embora considere que tenho razoável conjunto de conhecimentos intelectuais, fundamentados na cultura que acumulei pelos estudos e boas leituras que realizei, ainda não é por esta razão que sou vaidoso.

Muito menos se trata de minha capacidade de falar em público, pelas palestras que proferi, pois em algumas vezes vejo que não são tão boas como gostaria. Não tenho vaidade pelos bens materiais que possuo, pois sei que sou apenas administrador, já que um dia a morte vai me retirá-los por absoluta falta de posterior uso. Tampouco se deve às condições profissionais de meu trabalho e aos seus bons resultados, que me conferem relativo reconhecimento público, pois este é fruto de trabalho intenso e dedicação constante.

Certamente o bem que fiz e as boas obras que realizei são importantes, mesmo que menos do que poderia e gostaria, mas ainda não é por esse motivo que me envaideço, pois considero obrigação no exercício da cidadania. Minha vaidade não é pela família que construí nem pelos filhos que criei, mesmo vendo o quanto são amorosos e gratos a mim, pois quem cuida de seu ninho tem o conforto futuro assegurado. Considero que o lar é o melhor lugar onde se deve viver, portanto, o primeiro em que devemos aplicar tudo quanto traz harmonia e felicidade.

Mesmo tendo muitas razões para ser vaidoso, que trariam orgulho a qualquer pessoa, considero, no entanto, que estas conquistas fazem parte dos objetivos imediatos de toda pessoa minimamente adulta. Minha vaidade vem da alma, de minhas entranhas que gritam com uma disposição enorme de viver e realizar. Condição que me traz um estado permanente de prontidão para atuar na vida em favor do bem-estar pessoal e coletivo. Esta disposição compara-se a uma perene cachoeira que faz jorrar a água límpida que lhe dá vida em abundância.

A minha é mais do que a vaidade comum, pois compreende uma certeza interna de que é possível estar no mundo sempre intervindo em sua organização para que se torne cada vez melhor e mais justo.

Minha vaidade vai na direção da certeza de que, além de cuidar de interesses próprios, devo, concomitantemente, exercer a cidadania plena a serviço da sociedade da qual faço parte e de onde retirei tudo quanto foi útil para me tornar quem hoje sou, cabendo-me devolver na forma de valores éticos, bem como em ações que a tornem melhor.

Pretendo manter minha vaidade até que alcance os objetivos precípuos de sua existência em minha natureza interior.

domingo, 16 de dezembro de 2018

Transumanos

Antigamente eram três os reinos da natureza: Mineral, Vegetal e Animal. Hoje assistimos a necessidade de incluir mais uma categoria. Aos três primeiros reinos, foram acrescentados o Protista, o Monera e o Fungi, deixando de fora os vírus. Trata-se, agora, da categoria Transumano (ou transhumano). A ampliação das capacidades intelectivas humanas, que vão além do que seu organismo biológico naturalmente pode oferecer, parece não ter limites. Assistimos a uma revolução silenciosa na manifestação da inteligência humana aplicada ao seu viver. O uso cada vez maior de equipamentos e acessórios que possibilitam que a vida aconteça por mais tempo, de forma mais confortável e com menor esforço, tem modificado o conceito de humano como um ser exclusivamente biológico.

O robocop, o cyborg e os indivíduos que usam qualquer tipo de prótese mecânica não são referências para justificar a ideia do transumano, mas, principalmente, os que estão incorporando em sua vida biológica e psíquica equipamentos, eletrônicos ou não, quase indispensáveis ao seu viver, ampliando a inteligência humana, reduzindo o adoecimento, bem como aumentando suas competências físicas e psíquicas. Ansiando por permanecer saudável e vivendo por longo tempo no corpo e na consciência de si, o ser humano, talvez sem o perceber, vai se distanciando de sua exclusiva dependência de um organismo biológico. Ao ampliar seu tempo de vida no corpo, utilizando-se de meios exógenos, o ser humano começa a se diferenciar de seus semelhantes pelo uso de implementos auxiliares no seu viver. Os transumanos são indivíduos distintos entre si, por competências manifestamente diferentes pelo que integrou às suas habilidades adquiridas pelos meios convencionais.

Quando alguém cogita em implantar um chip biológico que lhe permitiria acessar instantaneamente todo o conhecimento disponível em sites de buscas na internet, torna-se diferenciado e em vantagem em relação aos humanos que não se utilizam desta atualização. O outro, que se utiliza de uma fita colada ao corpo, que amplia sua força muscular ou aquele que utiliza um exoesqueleto para se locomover e assim aumentar sua mobilidade, estão entrando na categoria de transumanos. Da mesma forma, aquele utiliza um óculos que lhe permite acessar instantaneamente informações numa nuvem, também nesta categoria se enquadra. Em acréscimo, ao utilizar o celular para múltiplas atividades e como meio de identificação de si mesmo, ampliando suas competências pessoais, o indivíduo está, silenciosamente, abrindo a uma nova categoria que vai além de sua condição humana.

Humano ou transumano, independentemente da nomenclatura que se adote, o ser humano só não deve continuar sendo desumano no trato com a natureza, com seu semelhante e consigo mesmo.

sábado, 15 de dezembro de 2018

Sombra social

Paira sobre as consciências humanas uma sombra que lhes determina o humor, o estado psicológico, a disposição de viver e de enfrentar os naturais desafios da vida. Esta sombra rapidamente se espalha de forma a atingir todos aqueles que sintonizam com o descrédito de si mesmo. Sem o saber, qualquer pessoa, o cidadão comum, está sujeita a ser cooptada por aquela sombra, bastando que não se perceba dona de si mesmo, apta a construir seu próprio destino ou que desacredite de seu potencial de realização pessoal. Quando encontramos muitos indivíduos que se submetem à influência sutil e perniciosa daquela sombra, a sociedade se torna medíocre e entra em estagnação. São indícios desta insidiosa e traiçoeira condição quando as pessoas aceitam tudo por menos, demonstrando pouca exigência à qualidade do que fazem ou recebem e a ausência de senso crítico ao que deveria ser proporcionado em excelência.

Quando se observa que as pessoas dedicam pouco tempo ao esforço para sair de condições sofríveis de vida, que agem de forma semelhante ao primitivo e que utilizam a violência como meio de obtenção de recursos, percebe-se que a sociedade ainda se encontra num estado bárbaro. Quando os indivíduos atuam de acordo com valores antiéticos, não agem dando o melhor de si quando no exercício de funções públicas e demonstram desprezo ao exercício da cidadania quando responsável pelo seu cumprimento, vê-se que a sombra dominou a sociedade. Nela predomina a excessiva tolerância ao próprio erro e as condições inferiores de vida, pois não enxergam que podem superar seus problemas.

A sombra também se estende atingindo aos que deveriam, por vocação, empreender, desestimulando-os ou o fazendo de forma tímida mesmo quando as condições macroeconômicas são favoráveis. A sociedade apresenta pouco empreendedorismo e sem incentivos a programas de inovação tecnológica, atrasando o desenvolvimento de projetos que proporcionariam melhoria da produtividade industrial e da qualidade de vida. Observa-se a baixa qualidade na confecção de produtos de uso comum e, principalmente, de venda, em que o consumidor é indefesamente lesado.
Trata-se, portanto, de uma grande sombra que se projeta sobre o estado de espírito das pessoas, promovendo atrasos que interferem na economia, na politica, na religiosidade, na mobilidade, na alimentação, nos serviços públicos e no laser, com graves consequências para o desenvolvimento social e para os direitos humanos. A degradação é observável quando o poder público faz por menos, planeja por menos e executa por menos, em desrespeito à vida e a inteligência humanas.

O combate a esta sombra inicia-se quando o indivíduo compreende seu papel de agente de transformação social, de responsável pelo destino pessoal e coletivo e quando percebe que o mundo em que vive é reflexo de si mesmo.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Retórica da moral

O desenvolvimento de uma sociedade está diretamente ligado a ética de seus cidadãos. País sem ética é consequência da ruína moral de seus cidadãos. Muito antes de Cristo, a retórica era velha conhecida da Grécia antiga, quando o sofista Górgias introduziu o tema em suas aulas em praça pública, através de palestras cobradas. Era a arte de falar bem visando impressionar ou convencer o outro. Ter o domínio do vernáculo para expressar ideias é desejável a qualquer ser humano que queira se comunicar bem. Quantos não gostariam de, pela palavra, serem aceitos, convencerem ou venderem bem suas ideias? Porém, quando se trata de moral, as palavras não são suficientes, nem conseguem dizer o que se passa no mundo íntimo do ser humano. O que se diz nem sempre é o que se sente, se pensa ou se faz.

No domingo, assistimos a Câmara dos Deputados, atendendo ao clamor popular, optar por uma mudança no comando executivo do país. Foram muitos discursos, muita retórica e muitos apelos à moralidade. Viu-se que não basta ser nem parecer ser uma pessoa ética. A retórica foi bem empregada pelos que defendiam um lado e o outro. Vê-se que é preciso mostrar os feitos éticos para que haja uma real mudança na política brasileira. Os interesses coletivos falaram mais alto do que o mérito da questão que foi votada. A classe política mostrou que atua corporativamente, refletindo, na retórica repetitiva dos discursos, e na performance de muitos, a estrutura da sociedade que representa. Em geral, prevaleceu a máscara social nas relações, em detrimento da transparência, da coerência de princípios e da ética fidedigna aos interesses coletivos.

Sim, precisamos de ética, de coerência ideológica, de menos fisiologismo e de mais transparência no exercício dos mandatos que são exercidos em nome do Estado. Ao cidadão brasileiro, resta esperar que a ética nasça na consciência dos legisladores para que deixem de se digladiar e de defender interesses escusos em nome da democracia, que juraram defender.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Reino Desunido

Os britânicos parecem arrependidos de terem votado a favor da saída do Reino Unido do bloco da União Europeia. O reino, ao que tudo indica, parece desunido, pois os escoceses que apoiaram a permanência deles no bloco bretão, não gostaram do resultado, pois não querem sair do bloco europeu. A desunião é reflexo de um mundo ainda não unido nem fraterno com seus cidadãos. A intolerância ao estrangeiro grassa num planeta cheio de contrastes, caracterizado pela diversidade cultural e com interesses econômicos e sociais marcadamente etnocêntricos.

A Inglaterra, principal interessada na saída, movida pela forte reação à imigração do leste europeu que lhe toma empregos de seus cidadãos, coloca em evidência uma velha temática preconceituosa: a xenofobia. O recado vale para todas as minorias, sinalizando que não devem esperar benefícios das maiorias, mas conquistar seus direitos a partir de competências próprias, sem depender de migalhas, muito menos do reconhecimento de direitos sem deveres. Parece que benefícios que visam reparar velhas injustiças soam como sinais de indignidade e menos valia, promovendo uma nova forma de discriminação.

O mundo ainda discrimina, retalia e exclui todo aquele que não obedece seus padrões ou que se encontra fora das fronteiras culturais preestabelecidas num determinado território. O ideal de uma sociedade universal, constituída de cidadãos do mundo e dos filhos de um mesmo Deus está longe de acontecer, mais parecendo uma proposição arquetípica improvável de ser materializada. Há ainda uma certa dificuldade na aceitação da unidade universal do ser humano, proclamada por todos, mas não aplicável quando interesses econômicos falam mais alto. Talvez ocorra quando o ser humano, sem deixar de perceber sua singularidade, enxergar sua parte coletiva, que o nivela e iguala aos outros e que o leva a cuidar de tudo quanto signifique viver em sociedade. Nada mais evoluído do que viver numa sociedade que inclua todos e que promova qualidade de vida.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Psicologização

O natural gosto humano pela Psicologia nasce do mistério que se esconde por detrás da ignorância que tem de si mesmo. Desde Freud, que postulou o Inconsciente como depósito do que não cabe na Consciência, o ser humano anseia pelo entendimento de como funciona sua mente, querendo descobrir o que não sabe de si mesmo. Todos querem descobrir sua própria natureza e como funciona sua mente. Seus anseios, medos e angústias podem e devem ser resolvidos na medida em que conheça o mistério que há por detrás de suas origens. A popularização da Psicologia parece ser um fenômeno relacionado com o aumento da capacidade do ser humano em subjetivar e decodificar os sinais e símbolos de seu Inconsciente. Mas também vem de sua necessidade de sair do lugar comum, de não mais enxergar a vida e os fenômenos sociais pelo modo oficial e politicamente correto de ser. 
Informações oficiais, ordens de conduta correta e modo de viver religiosamente adequado perdem espaço para uma outra maneira pessoal de ser e viver. 

O individualismo é o mal decorrente da psicologização da vida humana. Todos parecem ter uma forma particular de entender e de fazer o que é melhor para si mesmo. Psicologizar é uma natural tendência que leva o ser humano a múltiplas escolhas, fugindo de um padrão coletivo e comum de agir. Esse foi um equívoco do Comunismo ao querer um modo único de vida e comportamento para o ser humano. Desprezou a subjetividade, a psicologia da pessoa e as diferenças entre os seres humanos. Mesmo com direitos e deveres iguais, possuímos históricos psíquicos diferenciados e capacidades dessemelhantes. O fenômeno de se afastar cada vez mais de suas tendências coletivas para encontrar um modo pessoal de viver, seguindo a tendência individualista contemporânea, é típico de uma sociedade que prima pelos direitos humanos. Jung já declarava a necessidade de Individuação. A Psicologia contribui para a diferenciação e simultaneamente a humanização das pessoas, na medida em que propõe a existência do Inconsciente como grande campo de informações do indivíduo sobre si mesmo e sobre o mundo onde vive. 

Psicologizar é impor-se contra a coletivização e massificação da pessoa humana. Desde o início do cinema, nos últimos anos do Século XIX, o ser humano passou a contar com a divulgação de imagens como meio de ampliar suas percepções do que era declarado ou escrito. De lá para cá, aperfeiçoou técnicas, ampliou percepções, culminando com as infinitas possibilidades proporcionadas pelo mundo virtual. O ser humano segue sua incrível saga, com a contribuição da Psicologia, em busca do entendimento do mundo e de si mesmo.


terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Psicopatia

Doença assintomática, de diagnóstico tardio, com poucos estudos e de tratamento inespecífico. Em geral, os que são classificados tecnicamente como psicopatas agem em surto e não se dão conta da gravidade do que cometem nem apresentam reflexões emotivas de seus atos, não demonstram remorso ante os danos que causam, não são sensíveis a punições nem se preocupam com sofrimento pessoal. Tecnicamente são diagnosticados como portadores do Transtorno da Personalidade Dissocial, que abrange outros tipos mais comuns de diagnóstico precoce e encontrados em todos os níveis da sociedade. Estes últimos, ascendem na adolescência com pequenas atitudes desproporcionais ao senso comum que vão desde a crueldade com animais e pessoas até a destruição de ambientes de uso público, com acessos de raiva quando contrariados, em geral, insurgem-se contra a autoridade.

Algumas formas inadequadas de convivência, de perversidade, de depredação do patrimônio público, de forte e momentâneo descontrole emocional não são resultantes da psicopatia, pois apenas servem de sinais do baixo nível de sociabilidade do povo que assim procede pela falta de sentido da vida e de cidadania. O fundamentalismo religioso exacerbado também se aproxima da psicopatia pelas consequências danosas ao indivíduo e a sociedade, alvos de sua tentativa de conversão à força, porém seus adeptos não são psicopatas pois agem conscientes e deliberadamente. Pela mesma razão, não são psicopatas os terroristas, os que assassinam para roubar, os corruptos, os que planejam seus delitos visando exposição de sua imagem ou propagação de conceitos fundamentalistas, bem como os que apresentam alta agressividade nos surtos psicóticos.

Os psicopatas são tomados por descomunal ideia que os levam a ações desproporcionais ao seu desejo consciente, agindo à revelia de qualquer lógica racional. Tudo indica existir uma forte pressão inconsciente para o cometimento da atitude ou conjunto de comportamentos que excedem a normalidade e que pode ser enquadrado como algo hediondo.

domingo, 9 de dezembro de 2018

Psicologia e Religião

Vivemos numa época em que a diversidade se apresenta sob muitos aspectos, principalmente no mosaico religioso que caracteriza a cultura brasileira. Em que pese alguns exemplos de intolerância, o sincretismo é regra na atitude, nas manifestações coletivas e na linguagem popular dos diversos crentes e em seus cultos. Raro encontrar um ritual que não tenha sido influenciado pelo meio ou por outro seguimento religioso, pois se trata de algo que passa pelo psiquismo humano. Não há religião “pura” nem manifestação ligada ao sagrado que não sofra influência de sua época.

Religião é atitude frente ao sagrado por força de uma tendência inconsciente, portanto, pertencente ao automatismo psíquico que impulsiona o ser humano a uma busca inexorável ao que lhe transcende. Antes de ser uma manifestação cultural, determinada por fatores externos, é uma realidade psicológica que se impõe à mente consciente, que teima em materializar como símbolo o que desconhece. Mesmo quando a negação ao transcendente surge no formato de ateísmo, trata-se de uma exigência psicológica que tenta conter e sufocar a invasão inconsciente para que não mais anule a singularidade e a autonomia da pessoa humana.

A psicologia, em que pese seu cientificismo, compreende a diversidade religiosa como alta capacidade psíquica para a construção de sistemas adaptativos ao que lhe determina a própria mente. Por esta razão, qualquer fundamentalismo, exclusividade religiosa ou conversão forçada representam atraso psicológico ou manipulação absurda e ditatorial da pessoa humana. Considerando que a escolha religiosa individual é um mecanismo de equilíbrio psíquico, seja para aceitar ou negar preceitos relacionados ao sagrado, cabe-nos o respeito e a consideração por qualquer de suas manifestações, pois se trata de algo tão incognoscível quanto a própria definição da palavra Deus. Nada há mais respeitoso do que a integridade da vida e de como se manifestam as crenças que compõem o significado que o ser humano atribui a sua existência.

sábado, 8 de dezembro de 2018

Psicologia dos Sonhos

Sonhar é uma atividade inerente ao humano e se processa abaixo do nível da consciência. Ali, na mente inconsciente, os sonhos ganham vida antes de chegarem a atingir o córtex cerebral. Estes são sonhos cujo simbolismo ultrapassa a compreensão e a lógica da consciência. Há outros, que acontecem quando o indivíduo está acordado, que são elaborados pela consciência, e que costumam invadir o imaginário popular estimulando o ser humano nas suas realizações. São sonhos que nem sempre são realizáveis, mas que costumam impulsionar os desejos e se tornarem os principais motivos das realizações humanas.

Sonhar é preciso, mesmo que sejam sonhos improváveis de realização, pois são alimentadores da fé, da ilusão e de grandes conquistas para o indivíduo e para a sociedade. São inúmeros os casos em que sonhos viraram realidade, proporcionando importantes conquistas para a Humanidade. Cito o sonho de Santos Dumont, ao querer voar dando origem ao avião, favorecendo o surgimento da indústria aeronáutica, otimizando a mobilidade do ser humano. Os sonhos movimentam a vida, pois alimentam a esperança, fomentam a criatividade e impulsionam o progresso da Humanidade.

Pergunto-me qual é o sonho do cidadão brasileiro, que é alimentado diariamente e se materializa como sociedade? Talvez não seja possível definir, tal a diversidade cultural que ocorre em seus imensos rincões. Pelos últimos acontecimentos políticos, em que o submundo da república foi exposto nas páginas policiais de todos os veículos de comunicação do país, talvez o grande sonho seja “tolerância zero para a corrupção”. Para que este mais recente sonho se materialize é preciso que o próprio cidadão tenha outros, mais imediatos e que dependam exclusivamente de si. Refiro-me ao empreendedorismo, ao desejo de vencer pelo trabalho honesto, ao desejo de que seu esforço resulte não só no bem pessoal como no bem coletivo. O sonho de um indivíduo pode se tornar o de muitos, quando objetiva a construção de uma sociedade com justiça e igualitária.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Psicologia do Perdão

É da tradição cristã, além de ser um de seus princípios fundamentais, perdoar. Tudo leva a crer que se trata de um imperativo absoluto, sem o que não se ascende espiritualmente. Tornou-se obrigatório, sob pena de condenação a status inferiores, a todo aquele que não consegue oferecer o perdão ao seu ofensor. A realidade é que poucos alcançam sucesso quando desejam seguir este preceito religioso. Isto ocorre pelo equívoco quanto ao significado do perdão. Perdoar não é esquecer nem muito menos se trata de um ato instantâneo a ser executado sumariamente.

Fruto da violência que assola nossa cidade, cuja escala torna o problema uma epidemia calamitosa, é raro encontrar alguém que não lhe tenha sido vítima. Como perdoar o agressor anônimo, o assaltante, que tem sido cada vez mais comum nas ruas, e que geralmente não é mais encontrado? Como perdoar o assassino do filho morto por motivo fútil, muitas vezes por causa de um simples aparelho de celular? Como perdoar quem atirou a bala perdida que matou a criança que se encontrava em plena sala de aula? Difícil perdoar quando se pensa ser um ato instantâneo, absoluto e sem mágoa. Sente-se culpado quem não consegue, neste sentido, perdoar.

Ao se considerar o perdão como um processo, que exige tempo, é possível alcançá-lo com ganho considerável no quesito paz interior. Considere cinco fases do processo de perdoar. A primeira, a legitimação da raiva, cuja presença é o primeiro sinal do incômodo e da insatisfação, requer aceitação como natural emoção que não pode ser evitada. A segunda, o entendimento racional das razões que levaram o outro a agir daquela maneira, por empatia, sem estabelecer julgamento de quem tem ou não razão. A terceira, a consciência de que, sob as mesmas circunstâncias, poderia cometer o mesmo equívoco, visto que todo ato humano deve ser assumido universalmente. A quarta, questionar-se, independentemente da culpabilidade ou dolo do agressor, o que necessita aprender ou integrar à personalidade com a experiência vivida. Esta reflexão profunda, desloca o foco da raiva e do problema para si e para a própria existência, portanto, retira do outro, que continuará com sua responsabilidade. A quinta, diz respeito ao não esquecimento, ressignificando-o, compreendendo como uma proposição da vida com o intuito de algo ensinar a ambos.

Nesta última fase, quem deseja aprender o valor do perdão, deve lançar a Vida o pedido para que o agressor seja ensinado, não por vingança, a não mais agir da forma como o fez. O pedido se estende a que possa haver, de alguma maneira, em qualquer época, um reencontro para que o aprendizado a que foram submetidos, tenha valido a pena e que tenham entendido a razão superveniente para o acontecido.

Viver não é uma experiência unilateral nem a dois, pois o imponderável sempre vai estar permeando e atuando sobre todos os acontecimentos, sejam voluntários ou não.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Psicologia da Prosperidade

Ser rico sempre foi objetivo da maioria das pessoas. Os benefícios proporcionados são imensos e de inegável bem-estar. A riqueza material permite o acesso a muitos bens e serviços que promovem o desenvolvimento humano. Ser pobre, por outro lado, sempre foi um estado negativo, condição indesejável cujos malefícios provocam circunstâncias desagradáveis ao destino humano. Vale ressaltar que o pobre, mesmo com adversidades, evoca sua dignidade como símbolo de luta por sua identidade entre aqueles que exaltam a riqueza. A única pobreza exaltada, num entendimento particular, foi a “de espírito”, sinônimo de humildade, como consta no código cristão.

O ser humano deveria substituir seu ideal de riqueza pelo de prosperidade, tipo particular de sucesso na vida, que não carrega a pecha de ser negativamente invejada. A prosperidade, parente próxima da riqueza, significa a conquista dos bons frutos pelo trabalho digno, a aquisição do bem-estar pela honestidade, a obtenção do conforto trazido pelo uso de habilidades legítimas, o acesso a bons serviços públicos ou privados pelo exercício pleno da própria cidadania, bem como uma vida com demonstrações de boa educação e de vivência ética. A prosperidade é percebida quando uma pessoa é bem-sucedida em sua vida privada, profissional e pública, conquistando sua ascensão pelo mérito e esforço. Trata-se de alguém que alcançou algo semelhante ao que a riqueza proporciona, porém como uma consequência, sem que o objetivo direto tenha sido obtê-la.

Quando a prosperidade traz bem-estar pessoal e coletivo, e ocorre como consequência da dedicação e inteligência de uma personalidade saudável, assiste-se a realização completa do sentido e significado da vida. A sociedade constituída por indivíduos deste quilate, certamente é democrática, justa e construída em cima de valores universais, sem exclusão e com respeito às naturais diferenças. Precisamos nos empenhar para fazer a nossa parte, independentemente dos que almejam a riqueza a qualquer custo.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Psicologia da Linguagem

Vivemos em tribos dentro de uma mesma sociedade, falando o mesmo idioma, porém utilizamos diferentes linguagens, que dependem dos interesses de cada um. Uma mesma pessoa pode fazer parte de diferentes tribos que se misturam, formando um grande mosaico de grupos socais que compõem uma sociedade. Qual poliglota, o cidadão comum pode se utilizar de muitas linguagens. As tribos defendem seus interesses e trabalham pelas conquistas que consideram importantes e que são mantenedoras de suas existências. A linguagem interna de cada tribo é composta pelos objetivos que pretende alcançar, pelos interesses que defende e pela razão consciente que apoia.

Há tribos, por exemplo, que defendem as escolas e lutam pela melhoria da qualidade e de ampliação de sua quantidade. Dentro desta tribo existem os que se dedicam aos direitos de seus professores e seus salários. Há também os que lutam por melhores propostas pedagógicas e pelo conteúdo do que é passado para os alunos. São tribos dentro de tribos, com diferentes linguagens. Seus elementos vivem sintonizados por ideologias que nem sempre se tornam conscientes. Defendem seus pontos comuns quando manifestam suas preferências e quando falam em conversas reservadas.

Alguns fazem parte de tribos que se especializam em ludibriar, enganar ou corromper. São mestres da desonra e da quebra dos máximos valores que erigiram a civilização. São pessoas que utilizam a linguagem da cobiça, do ganho fácil e do poder a qualquer custo. A linguagem usual contempla o engodo, a esperteza e a desonestidade. Nem sempre são poderosos, políticos ou ocupam cargos importantes. Desta tribo fazem parte pessoas das várias classes sociais, que se vestem bem como também andam em farrapos, pois cada um deles se situa onde seus interesses os levam ou onde sua inteligência pode alcançar. Para que esta linguagem desapareça é preciso que uma outra se sobreponha, cujos verbos contenham ideologias da prosperidade, do bem-estar público, do respeito ao outro e da dignidade da pessoa humana.

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Por onde andas?

Em geral, cumprimentamos as pessoas com a costumeira formalidade do “Como vai?”. O termo visa obter a resposta, também formal, “Tudo bem”. Porém o verbo ir não é utilizado para designar um lugar, nem um caminho, mas um estado de espírito, uma subjetividade que pretende alcançar o sentimento da pessoa. Da mesma forma, ao perguntar “Por onde andas?”, não se pretende obter a resposta de um lugar, mas sim quais são as ideias, os projetos e os objetivos que dominam a mente da pessoa. Parte-se do princípio de que a consciência pode levar a pessoa a qualquer lugar, desde que esteja em harmonia. Alcançar esta condição requer atuação ética, adequado senso de propósito e alta vivência de cidadania.

O direito de ir e vir é universal. Todo indivíduo pode transitar livremente nos lugares públicos abertos. Você pode andar nas ruas, ir aos melhores museus, estar em belíssimas praças e visitar os lugares mais fantásticos do planeta. Para isto basta querer e ter condições para tal; porém, colocar sua mente em estado de equilíbrio, tendo a sensação de plenitude e com projetos saudáveis requer muito mais. A pergunta não se refere apenas ao espaço por onde você transita, mas principalmente onde se encontra seu pensar, suas ideias, seu senso de propósito e tudo que permeia os interesses mais essenciais de uma pessoa. Onde vais ou onde andas se refere à sua natureza, às suas tendências e ao sentido e significado que você atribui a sua vida.

Seu conceito de sociedade, do que é público e de qual é o significado de seu viver definem onde você de fato anda. Em realidade, você caminha pelos objetivos existenciais que alicerçam sua consciência e que formam a base de suas ações. O significado que você atribui à vida, ao outro, à pessoa humana bem como qual a qualidade de suas ideias, principalmente aquelas que dizem respeito ao que você ambiciona, definem onde se situa seu caminhar. Veja por onde você anda, pois seu caminho é tecido pela qualidade de seus projetos de vida, pelos desejos conscientes que inundam seu pensar e pelo tamanho de seu egocentrismo. Seu mundo acontece dentro de você mesmo, é seu mais precioso bem e é onde moram seus amigos e inimigos.

Suas ideias formam as balizas de sua mente, definindo os limites em que você circula. Por este motivo, as verdadeiras prisões não são físicas, mas psíquicas, emocionais e subjetivas, delimitando o tamanho de seu universo. Quando você inclui o respeito ao outro, a consciência do direito de todos, a ética, o bem-estar pessoal e coletivo, você é de fato livre. A depender do que se passa em sua consciência você anda por onde transita o que há de mais saudável no mundo ou então perambula pelos caminhos mais obscuros da vida. Ser livre passa pela construção de uma sociedade justa, igualitária e harmônica, mas, sobretudo, depende do que se processa em sua casa mental. Ela é seu passaporte.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Políticas públicas

Votar é o meio mais legítimo que o cidadão possui para o exercício da democracia. Porém, está claro que ele não é bem representado em suas escolhas. O governo que ele elege não cuida da formação e da consolidação do Estado, pois não cria os fundamentos da nação que se deseja construir. Somos representados por um grupo que não se ocupa destes fundamentos nem os possui como norma de conduta. Quais os valores que norteiam o Estado brasileiro? Sob que filosofia coletiva vive o cidadão deste país? Uma vida sem sentido, sem valores pessoais e coletivos, esvazia-se. O cidadão precisa saber o que seu país espera dele, ao mesmo tempo que ele próprio constrói o edifício de suas leis e fomenta seus valores.

Todo governo apresenta, em sua plataforma eleitoral, um programa que contemple medidas que comporão as políticas públicas cujas atividades influenciarão diretamente a vida do cidadão. Tais programas de governo devem se transformar, ou estar em consonância, com um sistema jurídico-político-social que congregue instituições que compõem o Estado. O Estado é garantido por um conjunto de leis e costumes que determinam a existência de uma nação. No Brasil, com suas entranhas políticas cada vez mais visíveis, os governos sempre pousaram como sendo o próprio Estado, fazendo dele o que bem quiseram, sem a menor cerimônia, com prejuízo ao cidadão e a nação. Vivemos uma gangorra, pois os governos, não só se arvoram em ser o Estado, como atuam para se perpetuarem.

Precisamos formar um país em que o cidadão valorize a nação que o acolhe, que respeite o direito a propriedade privada, que ele próprio cuide do patrimônio público, que não haja uma só criança fora da escola e que todos queiram empreender, gerando prosperidade pessoal e coletiva. Transferir estas responsabilidades para os governos e suas políticas públicas tem sido frustrante e alimentador da ambição de grupos cuja pátria não é o Brasil que queremos. Educando o cidadão, não teremos políticos inescrupulosos.

domingo, 2 de dezembro de 2018

Policial Militar

Quando jovem, estudei no Colégio Militar de Salvador e, posteriormente, na Escola Preparatória de Cadetes do Exército, em Campinas-SP, onde aprendi a ter disciplina. Meu pai também foi militar e me passou as bases de uma educação voltada para o dever, para o respeito à ordem, para a honestidade e para o exercício da cidadania. Ele era um entusiasta pelo Exército e pelo sucesso de seu país. Mesmo com esta boa formação inicial, não segui a carreira militar, pois não tinha pendores. Fui convidado a optar pela vida civil. A vida militar me deixou boas marcas, excelentes valores éticos e a consciência cidadã, sobretudo, de querer trabalhar por um país melhor.

Penso que todo militar, em especial, refiro-me ao que faz o policiamento nas ruas, deveria ter e merecer este mesmo respeito. Creio que a maioria recebe nos quartéis lições semelhantes as que recebi no Exército. Ser policial militar é mais do que ter um emprego; é um ideal de vida e um permanente estado de espírito de servir e de assumir o papel de protagonista pela ordem e pela harmonia social.

Quando vejo um policial, lembro-me dos valores que aprendi, da segurança que ele representa e da responsabilidade que tem. Infelizmente são mal remunerados, mal aparelhados e treinados em cima da realidade nua e crua da violência que adentra todos os bairros de nossa cidade. Uma pena que o Estado não dê a devida atenção ao policial, sobretudo àquele que vai para as ruas, que evita o crime, garantindo a segurança pública.

O policial é o Estado materializado em um ser humano. Ele é a garantia do cumprimento da lei, da ordem e tudo quanto significa a democracia. Ele é uma pessoa; tem seus dramas e problemas, mas no exercício do dever, é com ele que a população conta para garantir sua vida, portanto, merece toda consideração, respeito e confiança. Respeitemos o policial. Ele, independentemente de ser remunerado para tal, dá sua vida para que outras vidas tenham seus direitos garantidos. Ele é o último elemento, quando as outras garantias falharem, que temos certeza que se colocará a serviço do bem-estar público.

Mesmo sabendo de excessos cometidos por policiais, não devemos generalizar ou nos valer da má conduta de alguns para justificar atos ilícitos ou transgressões pessoais. É um erro grave desqualificá-los ou lhes desmerecer o valor. Deveríamos reverenciá-los, colocando-nos ao lado da Polícia, contribuindo para seu providencial trabalho.

Sugiro ao Governo do Estado a criação de programas nas escolas públicas, aproximando o policial da criança e do jovem, visando, desde cedo, a aprendizagem do respeito, da admiração e do gosto pelo seu trabalho. Em parceria com a Prefeitura, dever-se-ia criar um programa permanente, com inclusão de uma disciplina que contemple a ida do policial nas creches e escolas do ensino fundamental.

sábado, 1 de dezembro de 2018

Polícia

Desde menino, sempre que enxergava um policial sentia respeito, admiração e autoridade. Creio que projetava meu próprio pai, que era militar, pois via que ali estava alguém que mandava. O policial era o militar que estava fardado que me fazia andar na linha quando dele me aproximava. Estudei no Colégio Militar de Salvador e prestei serviço ao Exército na Escola Preparatória de Cadetes, em Campinas, São Paulo, o que me deu boa parte de minha formação ética e meu gosto pela disciplina. Creio que, por estas razões, minha proximidade ao admirar um policial está explicada.

Hoje, no entanto, lamento que nossa Polícia seja tratada como um subemprego em que o trabalhador não é respeitado. Não tem um salário digno de quem é responsável pela segurança, não é treinado como deveria e não possui os instrumentos adequados para fazer face ao crime organizado. O policial deve e precisa ganhar a admiração da população. É ele que representa a força do Estado, que garante a democracia, a justiça, a manutenção do estado de Direito, além de nos transferir a sensação de segurança pela simples presença.

O descaso que existe à importância do policial custa caro ao Estado, pois premia a insegurança e provoca o medo estampado na face do cidadão, que sabe que sair às ruas pode lhe trazer consequências muito negativas, inclusive a perda e sua integridade física. É triste saber que em nossa cidade não há bairro seguro nem rua em que não se possa ser assaltado. É também lamentável que o policial também precise esconder sua condição para não sofrer represálias e pagar com a própria vida por ser quem ele é.

Sei que há problemas em todas as áreas do Governo, principalmente na saúde, na educação, na moradia e na mobilidade urbana, porém na segurança pública o problema parece ser bem maior. Todos andam tensos e preocupados se não serão assaltados, estuprados ou mortos em qualquer lugar da cidade. Muitos migram para outras cidades e até para outros países por causa da falta de segurança.

Enquanto isto, o governo gasta fortunas com propaganda de seus feitos que, embora possam ser louváveis, são pífios quando o cidadão ao se beneficiar do direito de ver o resultado dos impostos que paga é assaltado no caminho de seu trabalho. Cabe ao governo efetivas ações para resolver o problema, sobretudo, oferecendo todos os meios para tornar o policial o cidadão mais informado, mais preparado e mais seguro para o exercício de sua função.

Valorizemos o policial, independentemente de tudo, é o ser humano que arrisca sua vida pela vida de quem também o considera importante. Sem restrições, o policial é o guardião da vida de uma cidade, tornando-se seu protetor diligente. Tratemos bem de quem se expõe e se arrisca para que sua cidade seja um local agradável e bom de se viver.

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Pobreza

A maior pobreza de nossa sociedade não é a material, mesmo considerando que ela é grande e perversa. Há uma outra que se constitui de forma sutil, presente em todas as classes sociais, gêneros e idades e que corrói a vida humana. Ela é negligenciada pela grande maioria das pessoas, cujos horizontes não passam de poucas conquistas materiais, midiáticas e de poder sobre os outros. Trata-se da falta de sentido para a própria vida, em que os objetivos se tornam imediatistas, pequenos e, muitas vezes, egocêntricos. Tal ausência ou, no mínimo, limitação da perspectiva do próprio viver, empobrece o indivíduo e, por consequência, toda a sociedade.

Essa pobreza não se resolve apenas com dinheiro, nem com propostas políticas de curto prazo. Não são líderes políticos, com ideias salvacionistas e populistas que irão enriquecer o ser humano, cidadão de uma sociedade doente em sua filosofia existencial. Sim, há sociedades, inclusive do chamado primeiro mundo, mesmo ricas, com excelentes condições de educação, saúde e de segurança, que são doentes, pois os horizontes de seus cidadãos são pobres, quando não são também egoístas. Ainda não entenderam que só há uma sociedade no planeta Terra: a dos seres humanos. Enquanto ainda existir pessoas no mundo morrendo de fome, sem acesso a educação, sem direito a viver em sua pátria e sem liberdade todos seremos pobres.

Quando o sentido da vida for o bem-estar pessoal e coletivo, com horizontes que vão além de atual geração, com a preservação da vida, com a defesa dos recursos naturais e com respeito ao direito individual teremos uma sociedade melhor e mais próspera. Que adianta ganhar, usufruir e ter prestígio quando falta sentido e significado para sua vida? Será que a satisfação de uma pessoa é suficiente para realizá-la? Provavelmente não, pois ninguém evolui sozinho nem se realiza sem amor.

Falta-nos uma filosofia existencial que contemple mais do que a autossatisfação e que perceba a Humanidade como uma só família. O sentido da vida é para a pessoa como uma espécie de bússola é para o navegador. Sem ela o barco fica à deriva, portanto, levando o indivíduo a viver o momento, a lidar com circunstâncias imprevisíveis e a tratar a vida como algo em que as razões de sua existência são meramente sociais e inconscientes. Sem o sentido da vida o destino se torna um acontecimento do domínio do acaso. A oferta religiosa, nem sempre convincente, também não alcançou êxito na definição clara para o sentido da vida. A filosofia da consciência coletiva é frágil, enganosa e inconsistente. Nada garante que o atual estágio em que se encontra o ser humano quanto ao sentido que dá à própria vida não é a causa indireta, porém não menos importante, da maioria de seus muitos males. Imaginemos uma sociedade em que todos aplicam como sentido de suas vidas a prosperidade pessoal e coletiva, numa sociedade igualitária, justa e harmônica. Falta-nos amadurecimento.

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Patrimônio

Ao longo de sua vida, o ser humano constrói um patrimônio para lhe proporcionar a sensação de segurança e de pertencimento. Logo cedo, na maioria das vezes antes de nascer, ganha um nome que lhe assegura o patrimônio da identidade; e, com o tempo, percebe e reafirma sua filiação para que se insira e tenha o patrimônio de um grupo familiar. Por muito tempo vai amealhando e ambicionando cada vez mais patrimônios, principalmente o da saúde física, cujo declínio inevitavelmente o levará, um dia, ao decesso orgânico. Acumular bens materiais é parte importante de sua saga inexorável de viver para alcançar um significado existencial. Porém há bens de outra natureza que devem e precisam ser integrados à sua personalidade, cujo ganho lhe trará enormes benefícios.

São muitos os patrimônios que fazem parte da vida humana. Há o patrimônio público, que todos devem zelar, o patrimônio artístico e cultural, de considerável valor para a sociedade, o patrimônio intelectual, muito útil para a vida laboral, e o patrimônio familiar, de importância significativa para a vida afetiva e o equilíbrio social. Há também o patrimônio supervalorizado da propriedade privada, cuja desproporção é motivo de preconceitos, inveja, injustiças e de atraso na ordem social. A propriedade privada é uma das garantias legais que o ser humano possui, pois se confunde com a integridade de sua pessoa. Todos querem um teto que lhe assegure a vida, mas os exageros, muito embora legais, promovem o surgimento dos complexos psicológicos humanos, principalmente o de inferioridade.

Alguns patrimônios podem ser alienados, porém há um que não poderá ser vendido pela qualidade e pela total impregnação ao seu portador, pois se torna parte integrante de seu ser. Trata-se do patrimônio ético, também conhecido como moral, que é inalienável e acompanha o indivíduo para sempre. O patrimônio ético de uma pessoa se constitui de suas tendências da personalidade, que não devem ser confundidas com seu caráter. Não se trata do que ele aprendeu intelectualmente ou pelos exemplos familiares, mas o que se tornou sua tendência comportamental, que se manifesta nos amplos atos de sua vida. Não são tão somente seus valores, pois estes podem ser racionalmente conhecidos e admirados, mas que não são suficientes para modificar instantaneamente suas tendências. Nas tendências da personalidade, os valores já foram integrados à essência do próprio indivíduo, direcionando soberanamente seu comportamento.

Grandes patrimônios não são apenas os que se compram na vida, mas aqueles que se apresentam como disposição permanente para trabalhar, como a conquista constante da alegria interior e como a plena confiança na realização proveitosa do próprio destino. Muito importante é o patrimônio da consciência em harmonia, sem os mecanismos de defesa que criam enganosas alternativas favoráveis ao pensar e no sentir. O patrimônio ético ao lado de uma consciência em paz são os maiores patrimônios que se deve construir.

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Paraíso

Quem não sonha com um mundo melhor, no qual a sociedade se constitui de pessoas maduras, autônomas e felizes? Utopia? Talvez. Existiu ou há alguma que possa ser reconhecida como tal? Desconheço. Alguns, mais esperançosos, acreditam que vai existir e que caminhamos para alcançá-la; outros, pensam que essa sociedade existe para além desta vida. O fato é que um mundo melhor se encontra na mente humana como representação de um paraíso prometido em contraposição a uma vida dura e sacrificial. Não existe paraíso em lugar algum sem um preço; este é um preço muito alto, pois exige, sacrifício, suor e renúncia ao que o próprio paraíso representa: prazer sem esforço.

A mentalidade coletiva que não se esforça, que não se interessa pelos estudos, que pretende a acomodação de um salário garantido sem esforço contínuo, que trabalha por obrigação e que não relaciona sua atividade laboral com o benefício que ela necessariamente deve proporcionar à sociedade ainda espera por um paraíso sem sentido. Sucumbir à mentalidade coletiva é o mesmo que abdicar de si mesmo, alienando-se quanto ao próprio sentido de existir e ao significado de viver em sociedade. A vida só tem sentido quando vivida em compartilhamento com afetos e em harmonia com a sociedade.

Resta refletir em como mudar a mentalidade coletiva e promover mudanças nas atitudes do grosso da população. Para isto é preciso maciço investimento em educação e em geração de empregos. Implementar ações que inibam qualquer possibilidade de se encontrar, fora do horário escolar (07:00 às 17:00 hs) uma criança sem os pais e na rua. A educação deve ser em tempo integral até o ensino médio e obrigatória para a obtenção de benefícios legais, na esfera municipal, estadual e federal.

Em paralelo, no campo empresarial, há que haver estabilidade política para que haja confiança do cidadão em investir seu dinheiro em atividade produtiva, além da desoneração de produtos e serviços que são excessivamente sobretaxados. Neste campo, o Estado deve ceder espaço à iniciativa privada, reduzindo gradativamente sue tamanho e sua intervenção na atividade econômica. Muito óbvio que estas medidas, pela complexidade das mudanças e do grande número de mandatários envolvidos, requerem maturidade política e consciência cidadã; ainda estamos longe de eleger indivíduos com requisitos que promovam tais mudanças.

Por estes motivos, a sociedade fica sujeita a políticos com discursos salvacionistas, populistas e fundamentalistas. São eles que favorecem o surgimento de formadores de falsos paraísos que engambelam os incautos e desavisados eleitores. Bom seria que a Opinião Pública, que tão bem critica a classe política, formasse um comitê de alto nível para oferecer propostas consistentes, mesmo que de longo prazo, para acordar a consciência coletiva do cidadão para que saia do paraíso fictício que almeja.

terça-feira, 27 de novembro de 2018

Calcanhar de Aquiles

Aquiles foi o principal herói da guerra de Tróia, tragédia grega ocorrida por volta do ano 1300 antes de Cristo. Sua mãe, então amante de Zeus, desejando que o filho se tornasse imortal, o banhou no rio Estige, segurando-o pelo calcanhar, razão pela qual este era o ponto em que apresentava vulnerabilidade. Foi justamente atingindo seu calcanhar que uma flecha envenenada lhe tirou a vida. 

O mito de Aquiles reflete a condição de toda criatura humana, que deixa lacunas em seus processos existenciais, por não considerar suas imperfeições e limitações presentes na personalidade.
Diz-se que todos temos um “calcanhar de Aquiles”, isto é, um ponto em que somos frágeis, geralmente oculto, exigindo a descoberta de qual é e de como pode nos desestabilizar. Porém, extrapolando o mito, questiono qual o “calcanhar de Aquiles” de um país? Qual o fator a ser desenvolvido, cuja solução levaria aquele país a se tornar mais desenvolvido? Em se tratando do Brasil, creio que existem muito mais do que dois calcanhares. São muitos os problemas e, portanto, muitas as ações para que o desenvolvimento venha a acontecer.

Especificamente falando-se da operação Lava Jato, que está passando a limpo nosso país, lavando a lama da corrupção, onde se encontra a fragilidade que a ameaça sucumbir? Uns dizem que é na falta de recursos para manter o aparelhamento policial que investiga, outros dizem que está na redução do poder do Ministério Público ou em alguma manobra política que impeça sua continuidade. Muito embora a operação apenas estanque os sintomas, o que já é algo muito relevante, não vai às reais causas. Estas causas são os calcanhares de Aquiles que devem ser eliminados.

Todos sabemos que há um calcanhar central que, por falta de vontade política e de bases culturais na matriz social, não é efetivamente trabalhado. Refiro-me a Educação, em cujo seio se encontra o calcanhar central do problema brasileiro. Enquanto não investirmos em Educação precisaremos indefinidamente de muitas operações Lava Jato.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Pacto

Toda sociedade necessita de alguns pactos para garantir a boa aplicação de suas políticas públicas. Não basta eleger-se alguém e outorgar a um partido a aplicação de uma ideologia política e econômica para que se obtenha êxito na administração pública e no desenvolvimento de uma sociedade. Depois das eleições, graças a uma certa passividade dos eleitores, pouco se cobra dos eleitos, como também, muito menos, vê-se a efetiva participação do cidadão e das entidades civis na colaboração com a nova administração. Na prática, temos de um lado, a população que sofre e espera soluções, porém sem participação direta nas ações e, do outro, o governo que tenta resolver e mostrar com maciça propaganda para que foi eleito.

A filosofia do “eu pago os impostos e quero ver os resultados” é seguida à risca, sem que o cidadão, as associações e as entidades de que faz parte, participem da execução direta do que foi definido como plano de governo. Simplesmente lavam as mãos, reclamando do não feito. Não se trata da defesa pura e simples dos governos, nem tampouco incriminar o cidadão, mas de tentar inserir, além das cobranças que devem fazer, sua atitude naquilo que é de seu interesse. A cidade é do cidadão, que cede parte de suas responsabilidades ao poder público, não se eximindo de suas obrigações nem se permitindo tornar-se expectador passivo da degradação de sua morada.

Os participantes deste pacto devem sentar à mesa, num mesmo fórum e, setorialmente, em câmaras específicas para o detalhamento das ações e competências de cada um. São atores do pacto: entidades de classe, associações de bairros, líderes religiosos, sindicatos, OAB, representantes do Terceiro Setor, Câmara Municipal, Poder Executivo Municipal/Estadual/Federal, Poder Judiciário, Ministério Público, Órgãos de imprensa falada/escrita/televisada, representantes do comércio e da Polícia Militar. Para coordenar e acompanhar este grupo, com a participação e parceria do Poder Executivo, nada melhor e mais ativo do que o Ministério Público.

domingo, 25 de novembro de 2018

Orgulho

Eu tenho orgulho. Sim, eu sou orgulhoso. Meu orgulho é um pouco diferente, mas não deixa de incomodar. Muito embora valorize minhas origens humildes por ter migrado do interior para cidade grande, conquistado tudo que uma sociedade organizada oferece, ainda não é por esta razão que sou orgulhoso. Sim, sair da obscuridade para a claridade do saber civilizatório enche qualquer um de orgulho, mas não o suficiente.

Muito embora me orgulhe de ser baiano, de admirar a cultura, a negritude de seu povo, a magia de sua arte e a própria baianidade, não é por esta razão que sou orgulhoso. São muito os exemplos de baianos ilustres, talentosos e competentes que me orgulham, e de forma alguma não me considero um deles. Considero meus artistas preferidos, dois ilustres baianos que nos enchem de musicalidade e poesia com suas excelentes produções artísticas.

Muito embora seja orgulhoso por ser brasileiro, não só pelas belezas do país, pelo potencial de suas riquezas naturais, mas principalmente pela resiliência de seu povo, não são estes os motivos. Enche-me de orgulho pertencer a um povo originário da mistura de diferentes etnias, forjando um DNA miscigenado por diferentes culturas. Porém não é somente por esta razão que meu orgulho se formou. Teria motivos para diminuir meu orgulho, em face da grande quantidade de líderes corruptos desmascarados recentemente.

Muito embora seja orgulhoso por ser latino e viver envolvido pela mística de uma língua de origem romana, cheia de particularidades relacionadas às emoções, portanto, ao coração, ainda não é por esta razão que o meu orgulho merece destaque. Viver na faixa tropical, navegando pela linha do equador, me enche de orgulho pelo clima, pela diversidade cultural e por tudo que suporta o povo latino.

Porém, de fato, sou orgulhoso principalmente pelo que se passa em minha consciência, algo inacessível, mas que contém o que de melhor pode se querer para um ser humano, mesmo que eu ainda não tenha alcançado. Meu orgulho é pelos meus sonhos a respeito de um mundo melhor. Nele há algo que não é dito por não haver palavras que traduzam a qualidade de suas imagens. Elas motivam uma disposição permanente para fazer o melhor pelo bem-estar pessoal e coletivo. Elas sinalizam para a necessidade de agir com a ausência de corrupção, do desejo de prejudicar ou retirar algo do outro. Nelas não há lugar para bairrismo, nacionalismo, pátria ou bandeira, salvo a da paz e do amor que a todos une. Meu orgulho é pela ausência total, em mim mesmo, de guerra, violência ou agressão ao outro. Orgulho-me da presença permanente do amor, da paz, da educação e da liberdade. Sei que não estou sozinho, pois muitas pessoas aparecem em meus sonhos que ficam gravados na consciência. De fato, sou muito orgulhoso.

sábado, 24 de novembro de 2018

O povo e a política

Política é a arte do imponderável, pois lida-se com surpresas a todo momento, com transformações sociais contínuas e com forças que atuam consistentemente para que haja alternância de poder. Não se pode pensar em comando político sem oposição, mesmo que o regime seja a ditadura. Quem está no poder não pense que está seguro ou que vai se perpetuar. Não se pode calar forças contrárias, pois se trata de um movimento natural da vida. Todo movimento gera e luta contra o seu contrário. Os políticos devem ser avisados que, naturalmente, fomentam reações contrárias para que mudanças ocorram. No Universo, o movimento é soberano e a mudança é regra.

No momento político em que vivemos, é notória a mudança de paradigma, por força das reações contrárias que foram tecidas por longos movimentos de resistência e pelo esgotamento da tolerância a corrupção. Mesmo que ainda continuem atos de corrupção ativa e passiva, o sistema está mudando, ainda que lentamente. Não basta a Lava Jato nem que se prendam políticos e empresários mal-acostumados com uma forma delituosa de atuar na sociedade, pois é preciso ir mais a fundo, nas escolas, nas organizações não governamentais e, sobretudo, na família.

A corrupção não é privilégio do brasileiro, pois se situa na psiquê humana, por força da vontade de alcançar, de forma mágica e imediata, o melhor para si. Ninguém nasce intencionalmente bom nem mal, pois pesa sobre as estruturas que compõem seu psiquismo, milênios de experiências bem e mal sucedidas da Humanidade que fazem parte do DNA de seu corpo. A sociedade, com a educação, com o surgimento de novos valores e com a consolidação de estatutos éticos, burila o ser humano. Por este motivo, o investimento maciço em educação é fundamental para que se erradique a corrupção e muitos ouros males do caráter humano.

A responsabilidade em alimentar aquela mudança é de todos, mesmo que de forma retórica, reduzida e limitada. Não se pode transigir em relação aos pequenos deslizes do cotidiano, a fim de que o exemplo seja seguido. O fortalecimento de instituições dedicadas ao controle e ao acompanhamento da gestão pública é fundamental, inclusive com a fiscalizações daqueles que dirigem os órgãos responsáveis pela coisa pública.

É preciso um chamamento público para que a sociedade socorra a sociedade e para o cidadão assumir aquele controle, nos seus bairros, distritos e associações setoriais. O cidadão deve entender que ele deve rever sua representatividade nos políticos. Sua delegação não esta sendo acompanhada, pois elegeu e não cobra nem fiscaliza, muito menos age como deveria. É hora, portanto, de implicar o cidadão para o exercício de sua cidadania. Não há democracia sem um povo esclarecido e merecedor de conduzir seu próprio destino.

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Não se apequene

Líderes que pensam pequeno, que se dedicam ao poder, às suas carreiras, aos compromissos que exaltam seus egos inflados são mais suscetíveis a corrupção. Tudo fazem para se manterem no poder e em evidência, pois cegam sua consciência para o progresso e para a melhoria do que conduzem. Chefe que não tem competência para ir além de atender ordens superiores, em detrimento da própria criatividade, do aprimoramento de sua atividade e do bem-estar de seus liderados diminuem a produtividade do que executam. Pessoas que conduzem pessoas e que não vão além de torná-las seus objetos de manipulação, reduzem a manifestação do que elas têm de melhor, travando o crescimento pessoal de cada uma delas. São como capatazes que querem escravizar seus liderados.

O poder emana de quem consente, portanto, ninguém tem poder sobre nenhum outro ser humano sem que lhe seja delegado. A liberdade do ser humano, respeitando o direito do outro, é inalienável. Fundamental é que esta liberdade, tornando-se responsável, seja assumida com intenção de mudar a própria vida, bem como o meio a sua volta. Quando se trata de votar, a liberdade de escolha não deve ser exercida como se tratasse do único recurso para mudar a realidade da sociedade em que se vive. Um povo que não se esforça pela prosperidade pessoal e coletiva, perde sua liberdade de escolher, de decidir e de crescer, portanto, é preciso ir além do voto, exercendo ações pessoais para mudar, inclusive o que é de interesse coletivo.

O cidadão que permite que sua cidade, seu país ou seu espaço de manifestação seja dominado por quem não tem ética, que não seja competente nem se ocupe do bem público não está contribuindo para a construção de uma sociedade harmônica. O liderado forja o líder que tem. É, portanto, responsabilidade do cidadão pelo que ocorre em sua sociedade, sem embargo das penalidades àqueles que traem seu voto, muito menos a culpabilidade das autoridades, cujo dever não pode ser negligenciado.

É preciso que o cidadão não se apequene, pois em suas mãos e na sua disposição se encontram soluções que podem, no médio e longo prazos, promoverem o surgimento de uma nova sociedade. É preciso que ele seja grande, seja próspero e tome para si o destino de sua sociedade. Portanto, sendo você patrão, empresário, líder religioso ou chefe de algum grupo, nas costumeiras comemorações de aniversários, de despedidas, de finais de ano ou outras, além das felicitações e de ajustes nos processos, converse sobre ações comunitárias para educar a população à ordem, ao progresso, ao empreendedorismo, ao ético, bem como a tudo que implique em melhoria social. É hora de pensar grande e de ultrapassar os limites do egocentrismo para agir sabiamente para que o amanhã virtuoso se aproxime mais rapidamente do hoje.