A maior pobreza de nossa sociedade não é a material, mesmo considerando que ela é grande e perversa. Há uma outra que se constitui de forma sutil, presente em todas as classes sociais, gêneros e idades e que corrói a vida humana. Ela é negligenciada pela grande maioria das pessoas, cujos horizontes não passam de poucas conquistas materiais, midiáticas e de poder sobre os outros. Trata-se da falta de sentido para a própria vida, em que os objetivos se tornam imediatistas, pequenos e, muitas vezes, egocêntricos. Tal ausência ou, no mínimo, limitação da perspectiva do próprio viver, empobrece o indivíduo e, por consequência, toda a sociedade.
Essa pobreza não se resolve apenas com dinheiro, nem com propostas políticas de curto prazo. Não são líderes políticos, com ideias salvacionistas e populistas que irão enriquecer o ser humano, cidadão de uma sociedade doente em sua filosofia existencial. Sim, há sociedades, inclusive do chamado primeiro mundo, mesmo ricas, com excelentes condições de educação, saúde e de segurança, que são doentes, pois os horizontes de seus cidadãos são pobres, quando não são também egoístas. Ainda não entenderam que só há uma sociedade no planeta Terra: a dos seres humanos. Enquanto ainda existir pessoas no mundo morrendo de fome, sem acesso a educação, sem direito a viver em sua pátria e sem liberdade todos seremos pobres.
Quando o sentido da vida for o bem-estar pessoal e coletivo, com horizontes que vão além de atual geração, com a preservação da vida, com a defesa dos recursos naturais e com respeito ao direito individual teremos uma sociedade melhor e mais próspera. Que adianta ganhar, usufruir e ter prestígio quando falta sentido e significado para sua vida? Será que a satisfação de uma pessoa é suficiente para realizá-la? Provavelmente não, pois ninguém evolui sozinho nem se realiza sem amor.
Falta-nos uma filosofia existencial que contemple mais do que a autossatisfação e que perceba a Humanidade como uma só família. O sentido da vida é para a pessoa como uma espécie de bússola é para o navegador. Sem ela o barco fica à deriva, portanto, levando o indivíduo a viver o momento, a lidar com circunstâncias imprevisíveis e a tratar a vida como algo em que as razões de sua existência são meramente sociais e inconscientes. Sem o sentido da vida o destino se torna um acontecimento do domínio do acaso. A oferta religiosa, nem sempre convincente, também não alcançou êxito na definição clara para o sentido da vida. A filosofia da consciência coletiva é frágil, enganosa e inconsistente. Nada garante que o atual estágio em que se encontra o ser humano quanto ao sentido que dá à própria vida não é a causa indireta, porém não menos importante, da maioria de seus muitos males. Imaginemos uma sociedade em que todos aplicam como sentido de suas vidas a prosperidade pessoal e coletiva, numa sociedade igualitária, justa e harmônica. Falta-nos amadurecimento.
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