A vida é um jogo em que atuam muitos personagens, onde todos querem vencer. Perder não está nos planos de nenhum dos jogadores. A todos só interessa a vitória. São eles, os vencedores, que constroem a interpretação do que é a história. São os vencedores que contam, pelo seu olhar, o que chamam de verdadeira história. Não conheço a versão dos perdedores. Não ganhar, ou perder, é considerado desonra, fracasso e inferioridade. Esta é uma das razões que dificultam a aceitação das contingências aversivas da vida. Aprende quem ganha e quem perde, pois o jogo da vida não obedece as regras humanas em que o vencedor é sempre o melhor na sua expertise. Superação, resiliência, merecimento, humildade, espelhamento coletivo, bem como necessárias lições transcendentes também fazem parte dos resultados das experiências.
No jogo da vida há riscos, perigos e possibilidades de grandes e graves mudanças. Há os que apostam muito, colocando em cheque o seu próprio medo e, do outro lado, os tímidos que acreditam que podem brecar o inexorável destino, omitindo-se do viver. Não existe o não viver, pois o sentido da vida é viver. Quando há a pretensão de ganhar a qualquer custo, principalmente pondo em risco o direito do outro, os resultados são sempre funestos para quem não tem escrúpulos. Se as leis vigentes tardam para encontrar os jogadores que desrespeitam o direito alheio e que ultrapassam os limites dos valores éticos, existem, porém, mecanismos psíquicos que não permitem que eles escapem de si mesmos. A mente humana possui leis próprias que perseguem os jogadores inescrupulosos.
Ninguém escapa do julgamento de si mesmo. Quando é atingindo um patamar que ultrapasse a ética estabelecida pela vida, dispara-se um mecanismo inconsciente de restabelecimento da ordem e do direito que atua à revelia da consciência e da cronologia dos fatos, para que haja o progresso social. A exemplo disso, as atrocidades cometidas pelos nazistas que resultaram no nefasto holocausto, genocídio contra os judeus, não ficaram impune. Até hoje os alemães se envergonham do que fizeram. A despeito do mal que fizeram, a Europa hoje, reerguida pelo Plano Marshall, apresenta prosperidade muito superior à existente antes da guerra. Assim ocorre na mente humana. Um dia, o indivíduo vai se perguntar para que usurpou, roubou ou cometeu qualquer delito para se prevalecer, desprezando a ética estabelecida pela vida.
Na dimensão afetiva, não é diferente. Joga-se muito, apostando-se altas somas de emoções que, em muitos casos, desarmoniza a vida e altera sobremaneira o destino. Negociam-se sentimentos, oferecem-se vantagens sem o devido lastro, engana-se e se é enganado. Neste jogo, ganha-se e se perde. Há, porém, um jogo em que ninguém vence: o jogo do poder. É ele filho do egoísmo e da falta de solidariedade. Quando o poder, o controle e a indiferença se apresentam nas relações, o amor não se instala.
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