Há muito se vê a sociedade condenando pessoas pelo fato de suspeitar-se do cometimento de delitos. Isto assanha a crueldade natural promovida pela repressão dos instintos latentes em cada ser humano. Não se trata de defesa pura e simples dos direitos do réu nem tampouco o esquecimento da vítima e daqueles que sofrem por elas, mas do estabelecimento do equilíbrio psíquico de uma sociedade adoecida pela própria ignorância.
Há que considerar se de fato houve o delito, intencional ou não, e se cabe a condenação coletiva, razão da influência para a manutenção de emoções sem o controle e sem o filtro da razão equilibrada. A notícia também deveria ser depurada por quem a veicula para que não vire fato incontestável. Um momento nunca é repetível, nem os fatos podem ser recompostos literalmente. Tem valido a interpretação em lugar dos fatos que se supõem terem ocorrido.
Todos têm direito a um arrependimento e uma segunda chance, pois o ser humano é, por natureza, resiliente e capaz de se reinventar. Muitos tentam se defender dos excessos do julgamento coletivo, por um instinto de sobrevivência, muitas vezes, negando seu próprio ato. A linha divisória entre a confissão sincera, com reconhecimento do próprio erro, e a defesa com falsas palavras, encobrindo a verdade, visando proteger-se é muito tênue. A midiatização do crime ou do delito é um dos fatores que contribuem para a indiferenciação entre o falso testemunho e a veracidade dos fatos. Longe de ser a causa, porém pode provocar o “comportamento de manada”.
A lei não prevê exposição pública de acusados ou de condenados. Esta ocorrência acirra ânimos, exacerba instintos e mantém a população com a fúria a flor da pele, estado que favorece explosões emocionais descontroladas. O apenamento do réu não inclui sua execração publica, pois esta prática foi altamente condenada pela Humanidade principalmente quando da crucificação de um inocente, Jesus.
O estágio em que se encontra a sociedade ao incluir a vingança em resposta ao delito, superando a natural indignação e as penas legais, inferioriza sua condição, tornando-a um feudo medieval em que a turba se compraz em ver sangue. A vingança tem sido colocada acima da racionalidade pessoal e coletiva.
Atitudes psicopáticas que resultam em sofrimento, em morte ou em irreparáveis perdas são e deverão sempre ser condenadas. Seus responsáveis deverão receber os rigores da lei; porém, sem esquecer de que, em seu mundo íntimo a condenação é inevitável, com a qual vão conviver independentemente da aparência de felicidade ou sucesso que possam ostentar. Ninguém escapa ao julgamento da própria consciência. Quem comete um delito, seja um simples ato de injustiça para com o outro ou um cruel assassinato conviverá com as imagens geradas automaticamente em sua consciência exigindo um improvável esquecimento e uma inevitável reparação.
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