O expressionista norueguês Edvard Munch pintou, em 1893, uma série de quadros denominados de “O Grito”, que retratam a angústia humana diante de sua inevitável situação existencial. O pano de fundo de seus quadros era sua própria história com tragédias familiares e um malsucedido romance. O desespero, a culpa e a ansiedade humanas foram subjetivamente representadas nas imagens andróginas dos quadros de Munch. Sua obra de Munch se eternizou pela qualidade artística e pela capacidade de traduzir sentimentos superlativos da tragédia humana.
“Mutatis mutandis” (guardando as devidas proporções), assistimos na mídia a transcrição e reprodução de gravações dos escândalos que ocorrem em nossa vulnerável República, envolvendo suas “ilustres” figuras. São gritos, às vezes, sussurros, de quem não percebe que vive sua angústia, seu inferno astral e os estertores da vida insidiosa que levam. São muitos que gritam, incriminando outros, buscando salvar a própria pele, mas que não conseguem argumentos paralimparem a própria alma da lama em que vivem.Parece que todos querem ganhar no grito, porém não percebem que suas acusações, com os impropérios característicos do meio, refletem a angústia em que vivem por uma salvação das garras do judiciário. A fala coletiva de que não escapa ninguém é genérica, e, em alguns casos, injusta, pois enquadra todos os políticos na vala comum da corrupção, do crime e da ilicitude. Porém é possível afirmar que todos, sem qualquer exceção, sabiam e sabem dos esquemas e armações que são feitas para que eles mesmos fossem eleitos. Posam de honrados cidadãos, mas seus telhados são de frágil vidro transparente. Gritam em favor da própria honra, que há muito tempo foi negligenciada.
Resta ao cidadão comum fazer sua parte, também gritando seus direitos fundamentados no estado de direito em que vive e no dever cumprido de não participar da bandalheira reinante. Gritemos pela legalidade. O grito não deve ser de angústia, mas pacífico e de indignação.
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