Quando assistimos homens honrados, cuja reputação deveria ser exemplo para todos, que deveriam trabalhar em benefício da sociedade, agirem no interesse particular, locupletando-se e esbanjando dinheiro público é possível concluir que no mundo interior de cada um deles habita tudo quanto pode ser considerado como egoísmo. O deserto ali vigora em face da excessiva valorização do que exteriormente lhes proporciona status, poder e acúmulo de bens materiais. Em suas mentes, todo o restante é acessório, já que a consciência sempre foca no que é mais importante. O deserto interior é imenso. São desertores de si mesmos, visto que preferem o deserto vazio de vida ética. São desertores deles mesmos, pois abdicam da realização pessoal pela ambição desmedida. Desertaram da realização de uma vida autêntica, saudável e altruísta.
Definitivamente a atividade de servidor público, seja ou não por concurso, em todas as esferas dos governos, incluindo aqueles indivíduos da atividade privada que lidam com recursos públicos, necessita ser revista. Deveria ser cercada de garantias, controles e meios de total transparência para que seu exercício não leve aos desertos interiores. O serviço público contém experiências que facilmente acessam os desertos da mente humana, onde se encontram o egoísmo, a acomodação e o complexo psicológico de poder. Da mesma maneira ocorre com aqueles que detêm o poder de distribuir cargos públicos, pois também estão sujeitos ao problema. Esses desertos devem ser preenchidos com o altruísmo, com noções básicas de ética, com conceitos de autorrealização, com ideias sobre o encontro consigo mesmo, cujos fundamentos deveriam ter sido desenvolvidos domesticamente e na educação infantil.
Como aceitar uma Câmara dos Deputados, casa do povo, dividida em seguimentos que foram comprados ou a soldo de alguém, divorciada da sintonia com o que é melhor para a sociedade, atendendo interesses menores e de grupos? É preciso instituir a meritocracia em tudo que envolve o exercício de atividades vinculadas ao serviço público, pois o problema se encontra na natureza humana com seus desertos interiores. Acreditar que a culpa é só do “sistema” é tomar o efeito como causa, visto que a responsabilidade está no caráter de cada um. É claro que existem exceções, pois encontramos homens públicos que apresentam tais características, mas que se tornam ícones, ilhados sem conseguir influenciar as cadeias decisórias da sociedade.
Preencher os desertos requer mais do que decisões governamentais de curto prazo ou contar com o importante e necessário brado da imprensa. Trata-se de um esforço hercúleo de renúncia ao egoísmo e ao desejo de poder que habitam na intimidade psíquica do ser humano. Portanto, é trabalho de gerações cujo início deve acontecer agora em cada ser humano.
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