quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Copa do Mundo de Futebol

Um dos maiores espetáculos da Terra, evento que reúne boa parte da Humanidade em torno de um esporte e que aglutina inúmeros exemplos de habilidades a serem integradas pelo ser humano. Organização, trabalho coletivo, talentos individuais, fraternidade, respeito à cultura do outro, uso de avançada tecnologia, humanização, disciplina são algumas lições que aprendemos ao assistir uma partida de futebol da Copa do Mundo. Tudo é grandioso e exalta a excelência humana em torno de um ideal esportivo saudável.

Mas, o mais importante talvez não seja nenhum destes fatores, pois lições subliminares costumam ser seguidas coletivamente mais rapidamente do que as explícitas. Estou me referindo ao desejo individual de sucesso, de vitória e, sobretudo, a esperança de dias melhores e de um futuro feliz que impulsionam quem joga futebol.

A ameaça a isto pode ser vista nos recentes escândalos que levaram para a prisão alguns dos dirigentes do órgão máximo que ordena o futebol no mundo, acusados justamente de corrupção, insidiosa praga presente em todos os setores da vida humana. Sim, a corrupção ameaça a esperança humana, corrói o desejo legítimo de viver de forma ética e saudável, pois representa o máximo egoísmo da ambição humana.

Por outro lado, há os que torcem pelo time da seleção brasileira, há também os que exaltam jogadores individualmente, porém, é preciso aplaudir também o que resulta do futebol. Além da alegria, da união de um grupo de pessoas para o alcance de um objetivo comum, da beleza de cada jogada pela habilidade do esportista e, principalmente, da disposição de viver pelo desejo da vitória, o futebol produz o prazer da convivência com pessoas queridas em torno de uma arte que promove a saúde. Há também que salientar as altas cifras que estimulam a todos que participam do magnífico espetáculo, movimentando grandes quantias em dinheiro oriundo de patrocinadores que vendem seus produtos com ganhos incalculáveis. O futebol movimenta a economia, gera empregos e oferece dignidade a todos que dele vivem, portanto, há que ser estimulado desde a infância.

Pensa-se que a Copa do Mundo de Futebol é para enganar o povo, como se fosse o antigo circo romano em que gladiadores em lutas sanguinárias divertia a massa espoliada pelos políticos e governantes de então. Se assim fosse não existiriam grandes empresas de marketing, jogadores bem sucedidos e toda a sociedade amando o futebol no mundo. Diverte, educa e promove a vida saudável. Imagino um dia em que as seleções possam ser formadas por livre escolha de seus jogadores, independentemente de suas nacionalidades; talvez, nesse dia, nos aproximemos mais da legítima fraternidade, do respeito a diversidade e nos afastemos do nacionalismo exacerbado.

terça-feira, 30 de outubro de 2018

Compliance na Educação

Sem qualquer sombra de dúvida, é na educação que se encontra o conflito e, simultaneamente, a solução para os graves problemas de nosso país. Claro que são necessárias reformas no sistema político, no eleitoral, no previdenciário, no econômico, na saúde e em muitos outros setores da sociedade; porém, a mais urgente e maior delas é na educação, sobretudo infantil. O reflexo disto é uma sociedade eticamente doente. Não é difícil perceber comportamentos que decisivamente contribuem para o atraso ético em que a sociedade se encontra, favorecendo o domínio de ideologias confusas, bem como a ausência de uma ordem que produza o tão desejado equilíbrio social com pleno estado de direito. O conflito é amplo e requer que inúmeras ações sejam executadas para o equacionamento do notório desequilíbrio.

Compliance, ou agir em conformidade com uma norma, assemelha-se a um pacto ético para que haja concordância e obediência segundo um modelo pré-estabelecido a ser seguido por um grupo. Considerando a sociedade como um conjunto de grupos formados pelos cidadãos, cabe ao poder público, seu administrador, instituir aquele pacto para que se resolva o conflito. Para sua plena implantação é preciso seguir disciplinas que concorram para a observância de normas e regras que evitem inconformidades. Compreende ações do grupo para que os resultados obtidos estejam de acordo com diretrizes legais e eticamente aceitáveis por todos. Desvios, corrupções ou recebimento de indevidas vantagens, tanto nas corporações quanto na vida comum, seriam contidas no nascedouro, por força de uma onda bem implantada que varra a praga que se espalhou indiscriminadamente no tecido social.

Para tanto, os governos, sob a coordenação da Prefeitura, criariam um programa amplo de atuação direta na comunidade com a instituição de Agentes Comunitários de Educação, que atuariam multidisciplinarmente, visando cadastrar e orientar as famílias quanto ao seguimento de uma vida com qualidade e com mínimas condições de sociabilidade. Seriam semelhantes aos Agentes Comunitários de Saúde, porém, teriam abrangência para orientação quanto ao planejamento familiar, financeiro, higiênico, educacional, jurídico e psicológico, incluindo noções de ética e cidadania. O cidadão teria, em sua casa, a visita de uma equipe que escutaria e orientaria sua família, sem bandeira ideológica ou política partidária, oferecendo-lhe tudo quanto é de seu direito como ser social e como pessoa no mundo.

Por outro lado, políticas públicas seriam implementadas visando a conscientização do cidadão quanto aos seus deveres e ao exercício da cidadania, com sua inclusão em programas com exigências de conformidades para o direito a recepção de benefícios adicionais às remunerações legais de seu trabalho laboral. A sociedade organizada tem de fazer um pacto ético para que sejam consolidados os valores que devem vigorar em seu seio, sem os quais a degeneração se infiltra como erva daninha que destrói a plantação que deve alimentar seus indivíduos.

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Compaixão

Compaixão é uma palavra que sugere um duplo sentido. O vocábulo significa o desejo de minorar o sofrimento do outro ou também a vontade de ajudar o próximo. Este desejo pode ou não ser traduzido em ações voltadas para a mitigação da dor alheia. Vulgarmente é confundida com pena, que pode parecer uma certa superioridade sobre o outro que sofre. Compaixão é uma intenção real em promover o alívio do sofrimento de outra pessoa ou de um grupo de pessoas. O seu contrário é a indiferença. Todo e qualquer tipo de violência representa a ausência da compaixão. O descaso ao sofrimento humano, seja pessoal ou coletivo, são sintomas de uma sociedade que não aprendeu a exercitar a compaixão.

Por outro lado, compaixão soa da mesma forma quando se afirma fazer algo com paixão. Atuar com paixão é colocar intensidade e emoção no que faz. É agir com a alma, com toda a vontade possível para a realização de um ato. Aqui, a palavra paixão é empregada no significado de energia ativa que impulsiona a vontade na direção de determinado alvo. Com paixão pode ser confundida com passionalidade, entendida como irracionalidade ou ausência de lógica. No entanto, com paixão é colocar sua máxima emoção, intensidade e assertividade no que faz. Seu contrário é a frieza e a passividade ante a dor e o sofrimento humano.

Se o cidadão utilizar a compaixão com a mesma paixão com que cuida dos problemas da sociedade em que vive, certamente o sofrimento das pessoas tenderá a se perpetuar. Se este mesmo ser humano resolvesse agir com a mesma paixão que usa para torcer pelo futebol, para gozar dos prazeres que busca nos fins de semana, com certeza a sociedade estaria numa melhor condição. É preciso ir além da empatia, alcançando a compaixão, cujo sentimento quando se transforma em atitude direcionada ao bem-estar do outro, promove a verdadeira prosperidade social.

A compaixão com paixão mobilizaria a alma das pessoas para solucionar os graves problemas éticos, estruturais e culturais de nossa sociedade. A começar pelo respeito às diferenças, pelo pleno exercício da cidadania, pelo cuidado com o patrimônio público, pelo respeito a dignidade do outro e pela caridade que emancipa sem gerar clientelismo e mais pobreza.

Convido o cidadão a se apaixonar pela compaixão, atuando na sociedade em favor de seu desenvolvimento, buscando realizar efetivas ações que de fato mitiguem o sofrimento da população, sem prejuízo de sua luta diária pela própria sobrevivência. A paixão pode ser um excelente combustível para todo aquele que se encontra desmotivado e desacreditado da vontade e da condição humana de superação de seus desafios. Que a compaixão humana não seja arrefecida pela indiferença nem se apague pelo excesso de racionalidade que assola mentes brilhantes.

domingo, 28 de outubro de 2018

Cidadania religiosa

A formação religiosa do brasileiro obedeceu ao rito dos povos colonizados, que foram submetidos ao domínio ideológico de seus senhores. Os dominadores encontraram facilidade em impor seus rituais religiosos, com a contribuição de seu conhecimento cientifico e de seu poderio bélico, ante a fragilidade das crenças nativas, principalmente pela falta de fundamentos doutrinários consolidados na consciência coletiva. Na Bahia, em especial em Salvador, a predominância religiosa do europeu colonizador sobre o indígena, e posteriormente sobre o africano, não foi diferente. De forma natural, porém sem qualquer cuidado com a crença nativa, impôs-se a religião, que se apresentava como a responsável pela “graça” divina de patrocinar a colonização. Claro que esse sistema produziu, e ainda produz, reações como contracultura, que tentam reaver suas legítimas tradições. Ao longo do tempo, este típico embate silencioso, provoca irrupções aqui e ali, demonstrando a força viva e onipresente da religiosidade humana. O sincretismo religioso que ocorreu principalmente entre a religiosidade do branco europeu e a do negro africano, é apenas aparente, pois as matrizes são diametralmente opostas. Uma alicerçada na fé que diviniza um humano, a outra, fundamentada na soberania da Natureza que se humaniza numa divindade. São dois diferentes fenômenos psíquicos que deveriam ser, mas não foram conciliados.

A intolerância, o fundamentalismo e a cristalização dogmática são obstáculos psíquicos criados pelo medo que se estrutura no que é considerado como consequência do comportamento frente aos conceitos do bem e do mal. Este medo, alimentado pela religiosidade superficial, comanda as atitudes que colocam em lados opostos seres humanos que ainda não entenderam o fenômeno religioso como um fato psíquico perfeitamente compreensível como decorrente de algo profundo pertencente a intimidade da mente. Aquelas atitudes são naturais reações, embora firmemente condenáveis, ante o predomínio cultural sobre os que, desde muito tempo, se sentem oprimidos, cujo comportamento se assemelha ao anteriormente experimentado. O sincretismo religioso, semelhante à miscigenação cultural, antes de ser um fenômeno social, é uma adaptação psíquica necessária para o respeito ao outro e para a compreensão de si mesmo. A face perversa da não assimilação adequada da necessidade de adaptação psíquica é a intolerância, cuja raiz se encontra, na não aceitação de si mesmo como indivíduo, semelhante ao outro, com quem contracena na vida. A cidadania religiosa é a vivência plena da religiosidade pessoal em que não haja conflito com a do outro, cuja educação se inicia na família e se amplia no seio das sociedades religiosas dominantes, que devem abrir espaço para o respeito às diferenças e com incentivo ao ensino da igualdade no fundamento das crenças humanas.

sábado, 27 de outubro de 2018

Berço esplêndido

O verdadeiro lastro de uma nação se situa em seus valores, nos fundamentos ideológicos de seus pioneiros e nos objetivos coletivos que a forjaram. Um país não se estrutura sem que seu povo internalize conceitos, ideias, proposições de socialização e sem que tenha a garantia do direito e da liberdade. Dá-se como na pavimentação de uma rua; há que haver um leito sólido onde se assentam as camadas principais que suportam o pavimento. Sem isto, a tendência é a fragilização da via por onde os veículos trafegam. Tomem-se os veículos como sendo representações das instituições e das pessoas numa sociedade. São elas que representam o sentido pelo qual a sociedade se forma. Em muitos casos, assiste-se cuidar do pavimento sem atentar para as condições em que se encontra o leito que serve de base às camadas superiores. Prefere-se o estímulo maciço à alegria do povo, cujo valor é inegável, em detrimento da oferta de condições que proporcionem bem-estar permanente bem como a manutenção da estabilidade social.

Governos se revezam em atender a manutenção do pavimento, pois lhes rendem dividendos políticos e benefícios eleitorais. Mesmo quando políticas públicas são estabelecidas, é possível observar-se que nem sempre atentam para a solidificação daqueles fundamentos, cuidando apenas de objetivos coletivos imediatos. Tentam remendar o que foi mal construído e que foi deficientemente estruturado. Quais os fundamentos desta nação chamada Brasil? Não me refiro aos que estão escritos em sua Constituição nem os que fazem parte dos livros religiosos ou das bandeiras estipuladas pelos seus líderes, mas aqueles que se encontram integrados à consciência de seus cidadãos. Refiro-me aos fundamentos e valores que passam de geração a geração, que se praticam no cotidiano da vida das pessoas, que são vividos em família e que são observados nas práticas comerciais; são estes que servem de referenciais para avaliar-se a sustentação do pavimento; eles formam a base sobre a qual todo o conjunto toma o nome de pátria.

É necessário fortalecer, ou mesmo criar, esta base no sentimento e na alma do povo. Há que se promover intervenções de longo prazo, independentemente dos governos, para que aquela solidificação se inicie. São intervenções projetadas de maneira a atingir todas as classes sociais, de acordo com seus níveis de entendimento e interesses. A criação de organismos, fundações, institutos ou órgãos suprapartidários e independentes que cuidem de projetos que de fato influenciem a continuidade de uma nação. É triste saber que estamos ainda na fase de lavar roupa suja, de preparar o subleito de um pavimento que ainda sequer foi escolhido. É preciso que o povo se levante para assentar seus pés num pavimento sólido porque será estruturado sobre bases confiáveis e conscientes. Por enquanto se encontra deitado em berço envilecido, não esplêndido.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Disputa Política

Toda disputa política promove ganhos para a população. Trata-se da concorrência, velha lei do mercado. Bom quando a disputa é por ideias que digam respeito a projetos que atinjam positivamente a sociedade em seus fundamentos. Quando a disputa se baseia em propaganda de feitos externos, com obras bonitas, porém pouco aparelhadas ou de vida curta por falta de insumos básicos e essenciais, trata-se da velha política enganadora. A velha política é partidária, parcial e voltada para o apadrinhamento, onde os que coligam tem cargos e vantagens. O que é melhor para a sociedade nem sempre é o que interessa aos que governam. A velha política é um câncer a ser extirpado.

Na velha política impera o narcisismo de governantes que querem deixar seus nomes na história. Não dão continuidade às obras de seus antecessores quando estavam em lados opostos na disputa eleitoral. Na velha política obras são exaltadas em lugar de marcos regulatórios, de políticas públicas, de educação dos atores políticos, pois não geram visibilidade eleitoral. Inauguram obras como quem oferece uma merenda para enganar a fome, por falta de refeições adequadas.

Na velha política da propaganda dos feitos, não há trabalho continuado, não há geração de empregos nem ações de longo prazo. O clientelismo impera e as antigas esmolas são substituídas por benesses e por concessões sem exigências de reciprocidade do cidadão para com a sociedade. Dão bolsas, mas não exigem retorno social na forma de valores éticos nem compromissos do cidadão no cuidado com a coisa pública.

Na velha política, o povo não é somente enganado, mas anestesiado com favores, com eventos pirotécnicos midiáticos e com propostas que são vendidas como positivas e de fácil implantação. Os políticos da velha política fazem pose de estadista e de salvadores de situações calamitosas que eles mesmo contribuíram para criar. Geralmente deixam para fazer inaugurações no final do mandato. Enquanto isto, faltam: segurança pública, saneamento básico, educação básica, geração de empregos, profilaxia contra o adoecimento, filosofia empreendedora, cuidados ao idoso, políticas públicas transparentes e tudo mais que indicaria que estaria havendo progresso social.

Sim, há obras com ganhos para a população e que melhoram a vida comum. Porém, que adiantam se não há trabalho para que o cidadão tome o transporte, se não há segurança pública, se não há professores nem pedagogos para as vagas escolares, se não há profissionais de saúde nem equipamentos para cuidados básicos nos hospitais, se não há empresas para que dinamizem a sociedade?

O cidadão não pode se deixar enganar, pois os políticos que aí estão não podem apagar o fato de que foram eleitos quando vigoravam os velhos métodos da antiga e sórdida política que a Lava Jato está combatendo.

Cenário político

Muitas especulações, muitos fakes, muitas bravatas de todos os lados. É a velha política ainda dominando o cenário noticioso, com bordões previsíveis e frases de efeito alienantes. Ao que tudo indica, os candidatos a cargos públicos, principalmente de Presidente da República, partem do princípio de que o eleitor também ainda continua o mesmo. O princípio é de que eles aceitam continuar sendo enganados. Estes eleitores deveriam colocar os atuais políticos, candidatos ou não, em museus onde figuram velhos ancestrais da política que muito prejudicou e enganou a sociedade.

São muitos candidatos sem compromissos concretos, aventureiros, raposas e lobos vorazes, que teimam em se valer da esperança de que se alimenta os eleitores. São velhas figuras, travestidas de heróis salvadores, que trazem seus sonhos pueris e promessas eleitoreiras vãs, mesmo sabendo que não as realizarão. Sim, são raposas, aproveitadoras da ignorância de muitos, para realizarem seus sonhos ingênuos e inconsequentes. Enganam e enganam-se.

O cenário que vemos é constituído de eleitores ingênuos, alguns crédulos, outros radicais em se manterem cegos e inertes ao perigo que ronda suas consciências com ideias distanciadas da realidade triste e pobre em que se encontra a sociedade em geral. Todos perdem, todos lamentam, mas continuam apáticos e iludidos como os que assistem e ouvem o canto das sereias.

Enquanto se discutem nomes nos partidos, na imprensa e nas esquinas esquecem-se de ideias, de filosofias renovadoras, da prosperidade e da disposição interna de cada cidadão para construir e viver em uma sociedade melhor. Qual pátria ele quer, qual nação pretende construir, que povo quer ser? São perguntas que deveriam ser respondidas nas escolas, nos ambientes de lazer e nos lares de todos que se preocupam em viver numa sociedade segura, com justiça e próspera.

Também cabe perguntar que país estamos permitindo que se construa e que legado deixaremos para a geração futura, pois o presente não nos mostra bases sólidas para algo de bom no futuro. O progresso que pode ser visto em alguns setores da sociedade se deve muito mais a fatores coletivos, imensuráveis do que a ações assertivas da velha e doente política partidária.

Precisamos de propostas exequíveis, mídias envolvidas e engajadas, com ou sem partidos políticos, cidadãos politizados, empresários doadores explícitos, apostando em ideias, formalizando plataformas e engajados. Tudo isto passa por investimentos em educação e em segurança pública. Enquanto assistirmos propaganda política dos que constroem viadutos, estradas, unidades de saúde sem aparelhemento algum, funcionando precariamente, bem como obras de fachada teremos a velha política dominando os velhos eleitores carcomidos pelo descaso consentido.

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Convite

Convido o cidadão baiano a uma breve reflexão. A outorga do poder é a única possibilidade de alguém se submeter a outrem, portanto a você pertence o domínio sobre o próprio destino. O que se passa em sua rua, bairro ou em sua cidade é também responsabilidade sua. Refiro-me a todos: empresários, funcionários públicos, empregados, desempregados e aposentados. A situação em que se encontra nossa sociedade, em todos os setores, é lamentável. Por que entregar a tarefa de resolver nossos problemas às autoridades governamentais? Elas são apenas nossos delegados, e, mesmo que pareçam desorientados e incompetentes para atuarem como deveriam, não conseguem solucionar tudo.

Todos se queixam da crise. A maioria o faz olhando para o próprio bolso, para suas necessidades e para a garantia de sua estabilidade social. Onde fica o exemplo, o dever social, a cota de participação no bem-estar coletivo? Quando será que o cidadão vai se conscientizar de que o problema coletivo lhe pertence? Até quando vai fingir que nada tem haver consigo, afirmando que os políticos são os culpados? Ou o cidadão assume seu lugar ou então os maus continuarão tomando conta. Por outro lado, quando alguém diz que entrega a Deus, abdica da possibilidade de encontrar, pela própria resiliência e criatividade, alternativas de sua autoria para os problemas que enfrenta.

A pergunta é: Quem decide por você e a quem deu poder de gerir seu destino? É hora de assumir o que lhe pertence como presente e futuro, pois o passado já foi entregue. Talvez você não se interesse tanto em contribuir para resolver os atuais problemas da sociedade porque não sabe o que fazer. Se é assim, então eis uma sugestão: vá à escola pública de seu bairro e contribua, em sua área de conhecimento, com melhorias, com consertos, com ideias ou com qualquer tipo de auxílio. Se você é patrão, converse com seus empregados sobre responsabilidade social e se ofereça para liderar um grupo de apoio à escola pública de seu bairro. Aos que querem um mundo melhor e possuem recursos financeiros para investir, apliquem em educação. Criem escolas de excelência, que preparem cidadãos éticos, comprometidos com a cidadania, com o respeito ao outro, com uma visão ampla da vida, com o bem-estar pessoal e coletivo, com valores que vão além do particular. Façam a diferença neste mundo em se encontram!

Temos boas escolas particulares no ensino médio. A associação da classe de que fazem parte poderia projetar uma escola superior de excelência para a formação do cidadão de que precisamos. Temos pessoas capacitadas para a realização deste projeto. Espero que os bons homens, grandes empresários desta terra, se associem para a criação de uma Faculdade de excelência para que seus filhos estudem e se tornem os exemplos e os líderes de que tanto necessitamos.

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

O Sistema

Culpa-se o Sistema por tudo. Até mesmo os que foram envolvidos pela Lava Jato devem querer aliviar suas consciências evocando o pensamento coletivo de que, como agiam, era a única forma de se fazer política ou de administrar a coisa pública. Novamente a culpa é do Sistema. Mas o que é esse tal Sistema? Na década de sessenta, no início da chamada guerra-fria, falava-se o mesmo; culpava-se o capitalismo selvagem, o imperialismo americano, a cultura massificada, entre outros. É provável que tenham tido razão. Hoje, os envolvidos, os indiciados, os réus e os condenados naquela megaoperação, talvez, para se sentirem em paz e manterem o equilíbrio de suas mentes não tão sadias, pensem o mesmo ou incluam outras desculpas semelhantes.

O que é fato inquestionável é que todos sabiam o que faziam e particularmente se beneficiavam, como também favoreciam seus pares que estavam nos mesmos esquemas. O Sistema é construção de cada um e não é razão suficiente para justificar o caráter das pessoas, cujas tendências lhes pertencem. Quando aderem à delação premiada, atestam que querem negociar uma parte do caráter, buscando alívio de suas penas, que, por sinal, pouco mudam suas disposições. Cabe a cada ser humano, antes de inventar seu “sistema”, avaliar o quanto vale seu caráter, pois a mente não se alivia com uma simples “delação premiada”, nem se contenta com pouco.

O caráter de uma pessoa não se mede apenas pelo que faz, mas principalmente pelo que almeja alcançar com seus atos. Quando quer se locupletar ou quando deseja a hegemonia sobre pessoas, submetendo-as às suas ideologias, torna-se doente do caráter. Sim, são doentes do caráter, todos aqueles que assim agem, pois, submetidos às suas tendências escusas, conscientes e inconscientes, contrariam a onda coletiva de melhoria do ser humano. A Humanidade tem se tornado cada vez mais civilizada, ao menos nos relatórios de organismos multilaterais, apresentando consistentes indicadores de melhoria da qualidade de vida, comprovando sua evolução.

terça-feira, 23 de outubro de 2018

Atitude

Há algo que permeia a vida comum das pessoas, tornando-as, por vezes, apáticas diante de situações injustas e contrárias ao bem comum. Deixa-as paralisadas, esquecidas de que o bem mais precioso de uma sociedade é o respeito e a garantia da liberdade de seus cidadãos. Uma sociedade em que impera a insegurança pública, a drogadição, condições precárias de saúde pública e uma educação infantil integral para poucos está doente. Muito doente. A continuar assim, a constatação é de que todos estamos cronicamente doentes.

Qual a origem dessa onda paralisante, da malemolência e da procrastinação que toma conta do cidadão diante dos problemas sociais? Por que os culpados são facilmente nominados, quando as soluções é que deveriam efetivamente serem colocadas em prática? Talvez aquela tendência em nada fazer e simplesmente esperar seja responsável pelo imediato impulso de tão somente culpar alguém. Sim, há responsáveis, porém não basta o bordão de culpar políticos, autoridades e detentores do poder, pois de fato eles não conseguem resolver.

Precisamos de motivadores, de exemplos de pessoas bem sucedidas nos quais o cidadão possa projetar seus anseios de sucesso e de realização pessoal. Aquelas pessoas, cujo sucesso se deveu a qualidades pessoais conquistadas pelo esforço, dedicação e persistência com ética e superação de desafios e adversidades são de fato heróis. Onde estão nossos heróis? Por que não são reverenciadas e colocadas em evidência?

Eles estão nas indústrias, nos esportes, nas atividades domésticas, nas repartições públicas, nas lojas, nos templos religiosos, nos espetáculos artísticos, nos trabalhos nas ruas, nos escritórios e em tudo o que deve e merece ser bem feito. Vamos torná-los visíveis, exaltá-los, trazê-los à luz para que todos se mirem, em cujo exemplo o cidadão comum deve se projetar. Certamente você, sua mãe, seu pai, seu irmão, tio ou tia ou alguém próximo a você pode ser esse exemplo a que me refiro.

As soluções para os graves problemas, com certeza, passam pelo cidadão, pois é ele quem elege os governantes, quem estabelece as políticas públicas e, por último, é quem sofre as consequências de tudo quanto vem dificultando a vida em sociedade. Sua formação doméstica, intelectiva, profissional, religiosa ou por inciativa pessoal deveria contemplar esta temática: o que você está fazendo agora para resolver esta situação? A resposta deve ser mais do que afirmar pagar impostos, pois não se trata apenas da gestão de recursos públicos, mas da atitude pessoal do cidadão. De nada adianta garantir a sobrevivência quando se tem uma vida sem sentido. A cura de qualquer doença começa no próprio indivíduo ao colocar sua mente e sua disposição a serviço da saúde.

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Um novo político

O mundo necessita de um novo político. A maioria dos que aí estão permanece com velhas práticas escusas para adquirir votos. Mesmo que queiram fazer algo de bom e administrar bem a coisa pública, acabam por se tornarem oportunistas que se locupletam com o erário público. Alguns dos que se elegeram, discursam contando vantagens de seus governos, quando não se ocupam em atacar seus oponentes, cuja estratégica para alcançar o poder é também achincalhar o outro. Culpam o sistema, a oposição, a mídia e até mesmo o “demo”. Quando governam, ajeitam espaços a serem ocupados pelos seus correligionários e apaniguados, oferecendo cargos e meios para ganharem o que investiram em suas campanhas.

Infelizmente não há escolas para político. A escola da vida o ensina a ambicionar desmedidamente o poder, o prestígio, a riqueza fácil ou o controle do povo que governam, enquanto alardeiam suas virtudes usando o dinheiro público. Não se aprende administração pública senão em cursos teóricos, onde não se inclui o combate ao grave problema da corrupção. Parte-se do princípio de que todos são honestos e bem-intencionados. Não consideram que tanto o ser humano faz o meio, quanto o meio o influencia. Deveriam considerar que a honestidade e a desonestidade estão no ser humano, restando-lhe discernir, pelo caráter, sobre seus usos.

A democracia tem seu valor, porém ainda deixa enormes buracos que promovem distorções no sistema. Uma delas é a aceitação de pessoas que se elegem sem o mínimo de preparo técnico e com graves falhas de caráter. Muitos acreditam que a popularidade que desfrutam, o creditam a pleitearem a condição de administrador público. Há que nascer um novo político que não foi forjado nos estúdios publicitários nem surgiu do interesse de grupos econômicos ou de movimentos supostamente sociais que não incluem em suas ideologias o interesse público com ética nem a diversidade cultural do povo que o elegeu. O novo político deve ter um plano de carreira, sem privilégios especiais, pois não são deuses nem missionários divinos mais do que qualquer cidadão.

Armas

Sei que a segurança pública é um dos graves problemas de nossa sociedade. Os grandes centros urbanos sofrem com a violência provocada principalmente pelo tráfico de drogas. Aqui e ali se ouvem relatos de assaltos e de outros crimes em que a tragédia deixa sua marca cruel. Por esta razão, percebe-se que é a parte pior da sociedade que está armada, sobretudo a constituída pelos marginais. Também armada, a Polícia se vê pequena e impotente par conter tamanha escalada da violência cotidiana.

Armar o restante da sociedade não me parece sensato, muito menos coerente com o pensamento lógico. Seria estimular uma guerra em que o lado mais frágil não sabe utilizar armas para sua própria defesa. Oferecer armas para quem não sabe usá-las é como entregar um revólver a uma criança. Despertar na sociedade o desejo de armar-se é de uma irresponsabilidade criminosa, mesmo sabendo do o quanto sofre uma família ao assistir sem nada poder fazer, uma pessoa ser brutalmente assassinada a caminho de seu trabalho para que lhe tomem um simples celular.

Mesmo tendo tido treino militar, sou pacifista, e não advogo o uso indiscriminado de armas, cuja posse em casa permitiria que os bandidos dispusessem de mais um local onde adquiri-las sem muito esforço. Um erro grave seria cometido ao se armar a população, favorecendo a violência, os acidentes domésticos bem como o uso fácil para o cometimento de crimes no ambiente e no entorno dos lares mais pobres. Um erro não justifica outro ainda maior.

O cidadão comum não é bandido, muito menos pode se transvestir em policial, para cuja função não tem treinamento adequado. Todos perderiam caso o cidadão tivesse direito a portar uma arma como se estivesse no faroeste, cujas leis beneficiariam quem argumentasse a legítima defesa. Ganharia quem tivesse a arma mais moderna e mais potente ou o bandido acostumado a utilizá-la em seu dia a dia. Embora possa haver argumentos favoráveis ao seu uso legal, os riscos são maiores e as consequências ainda mais nefastas.

Culturalmente não somos atiradores nem manejamos armas com maestria que justifique portá-las. A ética da bala é a de matar primeiro para não morrer. Voltaríamos à barbárie, assistindo a crimes com requintes de crueldade, patrocinados por psicopatas de plantão.

Temos que ir para a verdadeira guerra a ser travada para que a sociedade fique liberta do inimigo comum: a ignorância. Porém, nossa guerra é outra. É pela educação, para que o ser humano se transforme em um ser social vivendo em paz e em uma sociedade harmônica.
Não devemos esquecer que armas, mesmo que sejam para se defender, são para matar. É preciso Educação para que a sociedade de fato se torne o que almejamos para todos. Enquanto houver demanda para o uso de drogas, teremos bandidos que traficam e utilizam armas. Não a armas e sim à vida.

domingo, 21 de outubro de 2018

Antecipação forçada da maioridade

Muitas são as interpretações para a ascensão de Donald Trump ao poder como presidente da nação mais poderosa do mundo. Uma delas diz respeito à semelhança entre sua disposição em fazer com que os Estados Unidos deixe de ser o xerife do mundo e passe a tratar exclusivamente de seus problemas internos, como o pai que abandona o filho, então na adolescência, à sua própria sorte em seu contato com o mundo adulto. Quando um pai assim age, demonstra sua instabilidade, irresponsabilidade bem como atesta seu despreparo para conduzir aqueles que lhe foram confiados para que protegesse e orientasse o destino. Mesmo se sentindo órfão, o filho sabe que terá de enfrentar seus desafios para se tornar adulto, porém não esperava que o desligamento paterno fosse tão abrupto. É fato que o adolescente necessita superar o domínio psicológico de seus pais, revelando sua autonomia decisória quanto ao que lhe compete no mundo, sem o que, continuaria indefeso e dependente. Essa emancipação, muito embora necessária, não ocorre sem sacrifício nem muito menos com a complacência do mundo, que se aproveitará de sua inocência para lhe tirar vantagens.

Os países do mundo, qual adolescentes que são coercitivamente lançados na adultez, se mostram perdidos sem um protetor que lhes assegurem orientação adequada e cuidados ante os desafios a enfrentar. Os Estados Unidos vão cuidar de seus interesses, restando ao mundo se reorganizar para formar um organismo multilateral para cuidar de todos, sem outorgar a nenhum deles o permanente comando hegemônico. Trata-se de esforço contínuo para superação da insegurança ante as características de um mundo cheio de revezes, em que alguns se comportam como lobos vorazes que trucidam os mais frágeis. Será que o Brasil, se encontra em condições de gerir sua vida sem o providencial apoio americano, em que pese sua perigosa ingerência na política do país, sobretudo nos tempos da Ditadura? Neste sentido, o atual presidente americano pode estar agindo a favor da emancipação e amadurecimento do mundo para que se transforme num lugar em que todos venham a compreender o perigo de se acautelarem, armando-se uns contra os outros. Ou então assistiremos uma corrida dos que querem tomar o lugar de quem abdica de tutelar o mais frágeis e em dominar o comércio mundial.

Será que os países estão preparados para governarem a si mesmos, sem um pai, ou xerife, sem quem garanta a ordem mundial? Provavelmente não, mas talvez assistamos aqueles que foram tachados como vilões se redimirem e colaborarem com a paz mundial. Todos sabem que o gigante americano, sem a diplomacia e com o poderio que possui, não deve ser incomodado em seus interesses, sobre tudo quando o ocupante do cargo máximo é imprevisível.

Perdão no dia a dia 115

Conviver com alguém que mereceu seu perdão requer disposição para não continuar fazendo cobranças como compensação pelo que foi concedido. Da mesma forma, não se deve ficar desconfiado de quem foi perdoado, pois significa um controle do livre-arbítrio do outro, denunciando a existência de constante desconfiança. Perdoar é libertar o outro de cobranças e de controles que podem provocar o desejo de romper ou reincidir. Busque conviver com o outro que, porventura, tenha lhe machucado, demonstrando e verbalizando sua disposição em não cobrar, para que o outro compreenda a lição.



Texto extraído do livro Perdão no dia a dia.

Voz conciliadora

O cenário político tem dominado o noticiário de todas as mídias, com informações que estão interferindo diretamente na vida psicológica das pessoas, trazendo uma certa inquietação e, ao mesmo tempo, um desejo de que o país avance em sua maturidade institucional e na democracia. O bombardeio intenso de notícias de grande relevância e de impacto emocional tem sido constante, abrindo espaço para polarizações radicais, nem sempre equilibradas e saudáveis. Não há como fugir da realidade nem se omitir as entranhas sombrias da República, pois em jogo está a democracia, o estado de direito e a garantia das liberdades individuais e coletivas.

A operação Lava Jato, de importância crucial para a estabilidade política, social e econômica de nosso pais, sem precedentes na história, merece ser tornada permanente, pois o câncer da corrupção parece não ter fim nem remédio que o erradique instantaneamente. A expectativa do cidadão é que sejam criados mecanismos de controle e de prevenção, com o suporte garantido pelo Estado, para que sejam evitadas novas ocorrências.

O fato de não se enxergar uma luz no fim do túnel, ou uma saída constitucional para crise, pois o radicalismo tem apontado soluções sem respaldo jurídico nem apoio popular expressivo, denuncia a fragilidade que caracteriza os valores que norteiam a pátria brasileira. Em que filosofia se apoia a consciência coletiva de seus cidadãos? Nesta hora, deveriam prevalecer os princípios que forjam o caráter de uma nação, que não deixariam a sociedade avançar para o caos. Parece faltar uma voz conciliadora, sem colocar panos quentes, que levantasse a nação para os mais importantes valores que fortalecessem suas instituições, aumentasse a autoestima do cidadão e dirigisse o país para o crescimento econômico com justiça social. Tudo indica que aquela voz deve nascer na intimidade de cada um, propondo que se dê uma cota de esforço pessoal para o desenvolvimento coletivo, com ânimo e disposição ao trabalho e ao empreendedorismo.

sábado, 20 de outubro de 2018

Amor-próprio

A dignidade de uma pessoa é seu patrimônio inalienável. Não se herda nem se empresta. É inata. Todo ser humano é naturalmente digno e tem direito a que todos respeitem sua condição, razão pela qual ninguém, nenhum ser humano, sob pretexto algum, poderá ser discriminado ou ser tratado com desrespeito. A condição humana é superior a qualquer outra, sem prejuízo do respeito aos outros seres da natureza que ainda não alcançaram esta condição. A dignidade influencia decisivamente no amor-próprio da pessoa. Provoca a sensação de bem-estar, promovendo uma maior disposição de viver.

É desrespeito permitir que pessoas não tenham acesso a habitações dignas, nem tenham esgotamento sanitário em suas casas. Da mesma forma, admitir que habitem invasões sem o menor planejamento urbano, vivendo indignamente. Não lhes garantir acesso a educação de qualidade, tampouco não terem acesso à saúde atenta contra a dignidade e a sobrevivência da pessoa. Tudo isto patrocinado por corrupções e malversações do dinheiro público. O amor-próprio é frontalmente e diariamente atingido, prejudicando o desenvolvimento pessoal e o da sociedade.

Vivemos uma crise de amor-próprio, que provoca paralisia na disposição de corrigir, planejar, empreender e, sobretudo, construir uma sociedade ética e respeitosa para com a pessoa humana. Os interesses pessoais têm se sobrepujado ao público, colocando em cheque a honra de quem vive neurótica e egoisticamente uma vida pequena e sem sentido. É hora de incluir nos currículos escolares a disciplina Amor-próprio, onde o indivíduo aprenderia a se valorizar pela honra, pela ética, pela integridade e pela capacidade de suplantar o que oprime a vida humana.

Quando uma criança é encontrada na miséria, vivendo numa sub-habitação, desnutrida, relegada ao espaço público que lhe oferece o tráfico de drogas em substituição à sua infância teremos um adulto comprometido em sua dignidade e no amor-próprio. Se oferecermos às classes mais favorecidas, sobretudo aos seus jovens, em acréscimo ao lazer superficial e sensorial, o trabalho em ONGs, cujas horas sejam contabilizadas em concursos públicos ou no acesso às faculdades públicas, daremos dignidade, realçando o amor-próprio deles e daqueles que receberão seus serviços pelo exemplo do trabalho voluntário.

A sociedade deve se organizar para oferecer aos cidadãos meios dignos de elevarem o amor-próprio a fim de melhor promover seu desenvolvimento. O amor-próprio age de forma sutil na disposição para o trabalho, no aumento da criatividade e na alegria de viver, pois consciente ou inconscientemente, todo ser humano deseja ser amado, além de querer ter uma boa imagem pessoal elevada a fim de suplantar seu sentimento inato de ser apenas criatura.

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Trump

O fenômeno Donald Trump não pode ser simplesmente rejeitado ou caricaturado como representante do mal, pois seu surgimento atende a anseios coletivos que revelam algum tipo de insatisfação gerada pelo status quo vigente, merecendo reflexão. Nascido no coração cosmopolita dos Estados Unidos, ele reúne traços importantes da cultura americana, marcada pelo empreendedorismo de seus cidadãos. Sua ascensão se deve ao arrojo de muitos que constroem o país que é a principal locomotiva do mundo. Porém, ele também encarna o que tem sido execrado por boa parte da Humanidade que anseia por uma sociedade melhor, mais igualitária e harmônica.

Tudo leva a crer que sua popularidade se deve a um movimento ultraconservador que prega o retorno a uma sociedade fechada em si mesma, com valores medievais que incluem a segregação racial, o separativismo politico e econômico e a xenofobia. Talvez a ascensão de um negro, cuja popularidade e credibilidade ultrapassaram as fronteiras americanas, tenha incomodado os que sintonizam com aqueles mesmos valores. É importante salientar que o mundo não aceita mais ditadores nem aqueles que se colocam acima dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade entre os povos.

O fenômeno Trump é sintoma de uma sociedade dividida, doente em seus valores éticos, que prega a supremacia do capital sobre a pessoa humana e que se digladia para obter a hegemonia mundial. Não me refiro apenas ao governo americano, mas a todos que, na Terra, desejam o extermínio de minorias, pregam o desrespeito à religião do outro, bem como exploram a fome e a miséria de muitos. Se ele vencer, assistiremos o recrudescimento de tudo quanto nossos antepassados lutaram contra, principalmente, a desigualdade, o egoísmo e a miséria humana. Podemos fazer algo? Sim. Aqui, em nosso país, temos o voto como arma inalienável para o exercício da democracia e do banimento daqueles que corrompem, que roubam e traem os ideais que geram bem-estar pessoal e coletivo.

Temporada de ataques

O estágio em que se encontra a política no Brasil e a qualidade de nossos políticos está atestada nos ataques que ocorrem nos debates de candidatos a cargos públicos. Atacam-se mutuamente, pois esta é a norma comum. Quem tem mais intenções de votos nas pesquisas eleitorais recebe os maiores ataques. São lobos atacando lobos. Vivem da desgraça alheia, dos deslizes dos concorrentes, de dossiês montados para denegrir, apoiando-se em dar visibilidade ao lado negativo e sombrio de seu concorrente.

Ha os candidatos da internet, os das emissoras de rádio e televisão, os da mídia escrita, os das pesquisas, os dos partidos políticos, os da religião, dos que se elegeram utilizando propina e as velhas raposas da política. São raros os que trazem novas propostas, nova linguagem ou que se mostram por inteiro. Os que se encontram em cargos públicos e candidatos ao continuísmo fazem larga propaganda, paga com dinheiro do contribuinte, do que é obrigação, alardeando obras e feitos que realçam suas supostas competências. São lobos em pele de cordeiro.

Nos bastidores, fazem conchavos, alianças e negociações espúrias para alcançarem a ambição do poder. O resultado é uma classe política de qualidade duvidosa, de reputação manchada e, em grande número, de réus apenados por uma generosa lei que não os bane a bem do serviço público. Porém, não podemos esquecer que são representantes do povo, eleitos dentro do jogo democrático e legitimados pelos órgãos competentes. Eles não estão ali por um golpe. Querendo ou não, são espelhos de uma sociedade ainda doente.

Com propostas mirabolantes, com fértil imaginação alimentada pela influência de um povo esperançoso e crente em promessas mágicas, manipulam o imaginário coletivo que anseia por um salvador que lhe retire de condições de que não assume a autoria. Seguem assessores midiáticos. Constroem uma persona. Psicologicamente não são eles mesmos, pois necessitam agradar, surpreender e atender aos grupos formadores de opinião. Difícil aceitar esta situação que mais parece um programa de humor sombrio do que de postulantes a cargos públicos.

Como mudar esta situação viciada, repetitiva e inadequada para se construir um país em que a ética não seja colocada em sua máxima importância para o progresso da sociedade? A resposta está na Educação. Não são os políticos que resolverão. É a própria sociedade que necessita se educar. Mesmo considerando a importância do voto, da educação nas escolas e da democracia, torna-se fundamental que a classe influente, constituída de pessoas que se consideram inteligentes e empreendedoras assuma a responsabilidade pelo que aí está. Ou mudam suas filosofias de vida, saindo do egoísmo barato de ter mais para se valorizar e indo ao encontro de uma existência útil para si e para todos, ou então continuaremos lamentando e atirando pedra uns nos outros.

Renúncia do Papa

O mundo se surpreendeu com o anúncio de viva voz do ministério papal do Cardeal Ratzinger. Pode parecer estranho, pela surpresa, mas tem seu significado na história das religiões. Algo está mudando na psiquê religiosa coletiva que pode ser percebido pelo ato de Bento XVI. A fé, agora, não mais pode dissociar o humano do espiritual. A conhecida e antiga crise na cúpula da Igreja, não precisa mais ser desmentida, pois se trata do símbolo de uma mudança de paradigma psíquico. A mente humana não comporta mais a sacralização inconsciente do espiritual. A ascensão do pentecostalismo foi um aviso, o surgimento do iluminismo foi um grande alerta e, na atualidade, o alto índice de escolaridade e de uso de recursos tecnológicos são indícios de que o ego amadureceu na direção contrária à fé cega. 

Muito mais do que um problema da Igreja Católica Romana, a renúncia do Papa é um aviso ao mundo sobre os problemas provocados pela forma como lidamos com o sagrado. A contraposição na qual se elegeram certos comportamentos humanos como profanos e outros como sagrados, é responsável por grande parte dos problemas ligados à fé. A eleição, com seus critérios tomados inconscientemente, se origina da antiga antinomia entre o instinto e a espiritualidade. Tudo que pertencia ao instinto, portanto ao que é do corpo humano, foi considerado profano, pecaminoso e contrário ao espiritual. 

Porém, o que era considerado sagrado seguia a nominação dada por indivíduos que, por razões psicológicas que denunciavam possíveis instabilidades internas, dificultavam sua verdadeira compreensão. A corajosa e difícil decisão de renunciar simboliza o início da mudança de paradigma da arcaica irracionalidade do espiritual, para a utilização da razão aliada a fé. No paradigma antigo, há o predomínio da negação da vida material com correspondente supervalorização da vida espiritual. Em adição a isso, vê-se uma inferiorização do egohumano em relação a uma certa essência espiritual mais importante e verdadeira. O descuido à vida humana, empobrece a esperada vida espiritual. 

Por fim, com a renúncia, nada vai mudar na Cúria Romana, pois a real transformação está ocorrendo na psiquê humana, que, de forma inconsciente, passa a considerar o humano como o meio par que s alcance o espiritual, isto é, não adianta se espiritualizar sem antes se humanizar.

Convulsão política

Do ponto de vista psicológico, a conhecida síndrome de pânico é uma hipersensibilidade que atinge a consciência do eu sem seu controle. Trata-se de algo que, oriundo do inconsciente, alcança a condição de realidade com reflexos no corpo físico. Os sintomas vão desde o medo sem causa aparente até o suor com desconforto torácico. Às vezes, o mal-estar provocado impede importantes atividades da vida funcional da pessoa, podendo evoluir para um surto paralisante. Nossa política parece que vive semelhante situação. O medo, a incerteza quanto ao futuro, o desconforto ético e a convulsão no mundo político se assemelham aos sintomas de uma crise ou de um episódio de pânico. Muito pouco provável que se saiba o futuro, pois a saúde do doente (o país) anda muito frágil para qualquer prognóstico.

Na síndrome de pânico qualquer remédio químico é paliativo, pois o problema não é físico, mas sim psicológico. No caso do país, a Lava Jato é como um diagnóstico com algumas medidas judicias que ressaltam o potencial da doença, porém não revela o fato gerador, pois o vírus continua solto e ativo. Ele não atinge só a classe política e dos empreiteiros, pois se alastra pelos mais diversos campos da sociedade, sobretudo onde o dinheiro, o poder e a falta de ética caminham juntos. Diz-se que o sistema é corrupto, porém não se pode esquecer que o ser humano faz o meio em que vive e é por ele influenciado. A sociedade é posterior ao ser humano, pois ela se forma no conjunto de suas relações, razão pela qual o problema não é o sistema, mas sim quem individualmente contribui para sua manutenção.

O remédio em voga, a aplicação de penas segundo a justiça atual, assemelha-se aos que são utilizados no tratamento dos transtornos psíquicos, que, em sua maioria, quando têm efeito, combatem os sintomas, sem atingir a raiz psicológica do problema. A psicologia da intolerância a qualquer tipo de crime deveria ser implantada nas escolas, sobretudo nas que se dedicam a educação infantil, a fim de se formar uma nova geração de indivíduos que, à semelhança da jovem equipe de promotores da Lava Jato, investiga detalhadamente as ramificações e raízes dos delitos e seus responsáveis.
É de se perguntar quem governará o país, já que não resta quem, da cena política atual, esteja isento de investigação.

A cabeça que venha a reinar o país segue a ideologia dominante ou a maioria popular, porém um povo sem ideologia não conseguirá, em tão breve tempo, formar um estadista que posso conduzir eticamente seu destino. Isto significa que estamos à deriva por real falta de educação política, sobretudo a que contempla ética e respeito ao bem público. Somos um país gigantesco, mas uma pequena nação que caminha sem ideologia sólida, que dê ao mundo exemplo de sua ética. Espero que a Lava Jato seja apenas o começo de uma varredura em todos os setores da sociedade, principalmente na consciência cívica de cada cidadão.

A Ilha

Estive estes dias em Cuba. Confesso que criei grande expectativa para conhecer o povo cubano. Fundado na ideia de que encontraria pessoas politizadas, vivendo dignamente e com alta qualidade de vida, detive-me quando percebi que a realidade era diferente. Seria pela falta de seu maior líder e mentor? Ao me deparar com a realidade, tive um misto de contraditórios sentimentos: vergonha, indignação, compaixão e nostalgia.

Inicialmente senti vergonha de mim mesmo, por me achar privilegiado. Achei-me superior por viver em um país capitalista, com grande oferta de serviços sociais, com acesso ao que o mundo moderno oferece e, principalmente, podendo adquirir livremente o que um bom salário e crédito acessível permitem. Mesmo assim, vi que é possível viver com o mínimo e com dignidade. Vi casas sem muros, janelas sem grades, ausência de policiamento ostensivo, e uma população aparentemente vivendo em ordem.

Depois do impacto inicial, fiquei indignado. Indignação, pelo que via nas ruas sem drenagem pluvial; vi uma sociedade com serviços públicos precários, prédios e monumentos mal conservados, habitações sujas, esgoto a céu aberto, carros antiquíssimos, ônibus velhos, pontos turísticos despreparados, bem como degradação de aéreas públicas que poderiam ser bem tratadas. No fundo, eu queria uma Havana bonita, com ruas arborizadas, parques bem conservados e pessoas felizes nas ruas. Mas, assim não ocorreu.

Confesso que tive uma compaixão não piedosa, mas desejosa de que todos os habitantes tivessem alcançado o que uma moderna sociedade permite obter, o que a tecnologia proporciona e, principalmente, ter a liberdade de expressão.

Depois destes sentimentos, veio-me uma nostalgia. Ao ver a arquitetura urbana, tive saudade de uma época. Senti-me nos anos sessenta, deixando-me invadir por um tempo em que havia um glamour no ar, um romantismo gostoso e uma musicalidade aflorada. Vi-me de chapéu, calça de linho e acompanhando um violão tocando uma música convidativa ao dançar. Tudo isto estava em minha imaginação, pois a realidade era outra. Não vi felicidade na face das pessoas, pois faltava um sentido maior que talvez tenha sido causado pelo isolamento provocado pelos embargos comerciais e pelas restrições políticas impostas. Mesmo assim, há de se assinalar a forma educada em tratar o estrangeiro.

Acredito que o socialismo tem muitos ganhos, superando o capitalismo, principalmente no quesito solidariedade e no retorno da valorização do humano, em lugar do dinheiro pelo dinheiro. Mas considero a livre competição como fundamental para uma melhor qualidade em tudo que se faz e se produz. Cuba, portanto, me pareceu uma ilha ansiosa por se ligar ao continente. Respeito os que defendem seu sistema político, porém, infelizmente, os resultados me pareceram cruéis.

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Operação Lava Jato

Tudo na vida tem um ritmo que obedece a uma certa regulação, estabelecendo uma cadência. Alguns ritmos são acelerados, outros mais lentos, mas todos seguem um fluxo que se movimenta no tempo. Sintomático batizar-se de Lava Jato a operação que investigava doleiros e que chegou ao bilionário esquema de corrupção na Petrobras. Literalmente, investigava-se algo em cima de uma bomba de combustível que alimentava o fogo da corrupção. Felizmente o trabalho dos investigadores não seguiu a pressa da lavagem de carros, optando por ritmo menos acelerado, mas firme e direcionado pelos fatos, sem açodamento. O objetivo seria lavar a corrupção, passar a limpo o que manchava a sociedade e que utilizava o já escuro dinheiro do petróleo que jazia no subsolo brasileiro.

Do ponto de vista psicológico, trata-se de uma sombra que está instalada nos subterrâneos da personalidade humana que a leva à tentativa de superação da inferioridade ali instalada. Para vencê-la, com o desejo de superação consciente, no exercício do poder de obter ou conceder vantagens a qualquer custo, com a manipulação da máquina estatal, muitos resvalaram para a corrupção. Dizer que ela é sistêmica, ou não aceitar que esteja presente nas ações de todos os indivíduos, é não entender que se trata de algo opcional, que pode ser perfeitamente escolhido pelo amadurecimento da personalidade.

Educar os detentores do poder para que, quando em sua posse, não se permitam ser dirigidos pela tendência à superação do complexo de inferioridade, exigirá a criação de mecanismos de controle e do acompanhamento dos serviços que dispendem muitos recursos. Estes mecanismos incluem a criação de comitês de decisão, que possam aferir o grau de satisfação dos complexos psicológicos que porventura estejam sutilmente exigindo compensações no psiquismo daqueles que têm em suas mãos o poder de decidir a concessão de vultosos recursos. Não haverá corrupção quando a personalidade não mais necessitar superar sua própria inferioridade.