A formação religiosa do brasileiro obedeceu ao rito dos povos colonizados, que foram submetidos ao domínio ideológico de seus senhores. Os dominadores encontraram facilidade em impor seus rituais religiosos, com a contribuição de seu conhecimento cientifico e de seu poderio bélico, ante a fragilidade das crenças nativas, principalmente pela falta de fundamentos doutrinários consolidados na consciência coletiva. Na Bahia, em especial em Salvador, a predominância religiosa do europeu colonizador sobre o indígena, e posteriormente sobre o africano, não foi diferente. De forma natural, porém sem qualquer cuidado com a crença nativa, impôs-se a religião, que se apresentava como a responsável pela “graça” divina de patrocinar a colonização. Claro que esse sistema produziu, e ainda produz, reações como contracultura, que tentam reaver suas legítimas tradições. Ao longo do tempo, este típico embate silencioso, provoca irrupções aqui e ali, demonstrando a força viva e onipresente da religiosidade humana. O sincretismo religioso que ocorreu principalmente entre a religiosidade do branco europeu e a do negro africano, é apenas aparente, pois as matrizes são diametralmente opostas. Uma alicerçada na fé que diviniza um humano, a outra, fundamentada na soberania da Natureza que se humaniza numa divindade. São dois diferentes fenômenos psíquicos que deveriam ser, mas não foram conciliados.
A intolerância, o fundamentalismo e a cristalização dogmática são obstáculos psíquicos criados pelo medo que se estrutura no que é considerado como consequência do comportamento frente aos conceitos do bem e do mal. Este medo, alimentado pela religiosidade superficial, comanda as atitudes que colocam em lados opostos seres humanos que ainda não entenderam o fenômeno religioso como um fato psíquico perfeitamente compreensível como decorrente de algo profundo pertencente a intimidade da mente. Aquelas atitudes são naturais reações, embora firmemente condenáveis, ante o predomínio cultural sobre os que, desde muito tempo, se sentem oprimidos, cujo comportamento se assemelha ao anteriormente experimentado. O sincretismo religioso, semelhante à miscigenação cultural, antes de ser um fenômeno social, é uma adaptação psíquica necessária para o respeito ao outro e para a compreensão de si mesmo. A face perversa da não assimilação adequada da necessidade de adaptação psíquica é a intolerância, cuja raiz se encontra, na não aceitação de si mesmo como indivíduo, semelhante ao outro, com quem contracena na vida. A cidadania religiosa é a vivência plena da religiosidade pessoal em que não haja conflito com a do outro, cuja educação se inicia na família e se amplia no seio das sociedades religiosas dominantes, que devem abrir espaço para o respeito às diferenças e com incentivo ao ensino da igualdade no fundamento das crenças humanas.
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