sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Deuses

A mitologia grega é pródiga na apresentação de símbolos. Seus mitos são representações das razões humanas para o comportamento coletivo. Não são fantasias ou meros contos para entretenimento infantil. São produções orientadas pela estrutura psíquica que automaticamente simboliza sua própria dinâmica. No Olimpo, morada dos deuses gregos, Zeus assume o poder, destronando Cronos, seu pai, banindo os irmãos, reservando-lhes funções menores. Esta disputa se tornou permanente, graças ao arquétipo da luta do filho que precisa se libertar do pai. Ali no Olimpo, como nos tribunais humanos, todos queriam reinar. Deuses são representações dos desejos humanos pela obtenção da soberania, do controle sobre si mesmos e, principalmente, sobre o mundo.

Assim também ocorre com os juízes do Supremo Tribunal Federal, quais deuses do Olimpo, se digladiam numa briga que denuncia o estado em que se encontra a maioria dos tribunais do Poder Judiciário. Infelizmente, o poder em mãos humanas ainda é utilizado de maneira injusta, muitas vezes de forma arbitrária, atendendo a interesses pessoais. Existe, mas é raro encontrar-se pessoas que assim não ajam. Aquelas excelências, como se tratam, são supremos na fragilidade, posto que são humanos, mas poderosos nos argumentos que sustentam no Direito, principalmente quando na defesa de seus interesses pessoais. Não os digo corruptos, mas simplesmente falíveis, parciais e inflacionados em seus egos, com raras exceções. É inaceitável que os juízes de nossa suprema corte sejam indicados pelo representante de outro poder. Denuncia a imaturidade da democracia.

Sempre soube que a Lava Jato iria escancarar os limites, as competências e a maturidade do Judiciário brasileiro. Seria o grande teste para se avaliar se de fato seria capaz de fazer acontecer a justiça, garantindo assim o estado de direito no país.

O Judiciário não é tão maduro como se pensava. Acreditávamos que o problema estava na política, no Poder Executivo e no Legislativo. De fato, este era um dos inúmeros problemas que cercam a sociedade brasileira, sob o comando inconsequente do Poder Executivo. Não imaginávamos que o garantidor da legalidade, da ordem, da Constituição, se comportaria como um tribunal de uma republiqueta de bananas. Agem pior do que Pilatos, que entregou a juízes parciais e cruelmente injustos, a turba furiosa, o destino de um Justo. Eles estão perdidos e batendo cabeças uns com os outros na disputa pelos holofotes.

Lidávamos com a inocência útil, porém, no fundo sabíamos de que se tratavam de mortais com as mesmas idiossincrasias comuns a todo cidadão. Resta-nos aguardar que o próprio cidadão amadureça, pela educação, e, decididamente, assuma seu lugar de protagonista na transformação da sociedade para que ela seja seu melhor amanhã.

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