Ao longo de sua vida, o ser humano constrói um patrimônio para lhe proporcionar a sensação de segurança e de pertencimento. Logo cedo, na maioria das vezes antes de nascer, ganha um nome que lhe assegura o patrimônio da identidade; e, com o tempo, percebe e reafirma sua filiação para que se insira e tenha o patrimônio de um grupo familiar. Por muito tempo vai amealhando e ambicionando cada vez mais patrimônios, principalmente o da saúde física, cujo declínio inevitavelmente o levará, um dia, ao decesso orgânico. Acumular bens materiais é parte importante de sua saga inexorável de viver para alcançar um significado existencial. Porém há bens de outra natureza que devem e precisam ser integrados à sua personalidade, cujo ganho lhe trará enormes benefícios.
São muitos os patrimônios que fazem parte da vida humana. Há o patrimônio público, que todos devem zelar, o patrimônio artístico e cultural, de considerável valor para a sociedade, o patrimônio intelectual, muito útil para a vida laboral, e o patrimônio familiar, de importância significativa para a vida afetiva e o equilíbrio social. Há também o patrimônio supervalorizado da propriedade privada, cuja desproporção é motivo de preconceitos, inveja, injustiças e de atraso na ordem social. A propriedade privada é uma das garantias legais que o ser humano possui, pois se confunde com a integridade de sua pessoa. Todos querem um teto que lhe assegure a vida, mas os exageros, muito embora legais, promovem o surgimento dos complexos psicológicos humanos, principalmente o de inferioridade.
Alguns patrimônios podem ser alienados, porém há um que não poderá ser vendido pela qualidade e pela total impregnação ao seu portador, pois se torna parte integrante de seu ser. Trata-se do patrimônio ético, também conhecido como moral, que é inalienável e acompanha o indivíduo para sempre. O patrimônio ético de uma pessoa se constitui de suas tendências da personalidade, que não devem ser confundidas com seu caráter. Não se trata do que ele aprendeu intelectualmente ou pelos exemplos familiares, mas o que se tornou sua tendência comportamental, que se manifesta nos amplos atos de sua vida. Não são tão somente seus valores, pois estes podem ser racionalmente conhecidos e admirados, mas que não são suficientes para modificar instantaneamente suas tendências. Nas tendências da personalidade, os valores já foram integrados à essência do próprio indivíduo, direcionando soberanamente seu comportamento.
Grandes patrimônios não são apenas os que se compram na vida, mas aqueles que se apresentam como disposição permanente para trabalhar, como a conquista constante da alegria interior e como a plena confiança na realização proveitosa do próprio destino. Muito importante é o patrimônio da consciência em harmonia, sem os mecanismos de defesa que criam enganosas alternativas favoráveis ao pensar e no sentir. O patrimônio ético ao lado de uma consciência em paz são os maiores patrimônios que se deve construir.
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