Vivemos numa época em que a diversidade se apresenta sob muitos aspectos, principalmente no mosaico religioso que caracteriza a cultura brasileira. Em que pese alguns exemplos de intolerância, o sincretismo é regra na atitude, nas manifestações coletivas e na linguagem popular dos diversos crentes e em seus cultos. Raro encontrar um ritual que não tenha sido influenciado pelo meio ou por outro seguimento religioso, pois se trata de algo que passa pelo psiquismo humano. Não há religião “pura” nem manifestação ligada ao sagrado que não sofra influência de sua época.
Religião é atitude frente ao sagrado por força de uma tendência inconsciente, portanto, pertencente ao automatismo psíquico que impulsiona o ser humano a uma busca inexorável ao que lhe transcende. Antes de ser uma manifestação cultural, determinada por fatores externos, é uma realidade psicológica que se impõe à mente consciente, que teima em materializar como símbolo o que desconhece. Mesmo quando a negação ao transcendente surge no formato de ateísmo, trata-se de uma exigência psicológica que tenta conter e sufocar a invasão inconsciente para que não mais anule a singularidade e a autonomia da pessoa humana.
A psicologia, em que pese seu cientificismo, compreende a diversidade religiosa como alta capacidade psíquica para a construção de sistemas adaptativos ao que lhe determina a própria mente. Por esta razão, qualquer fundamentalismo, exclusividade religiosa ou conversão forçada representam atraso psicológico ou manipulação absurda e ditatorial da pessoa humana. Considerando que a escolha religiosa individual é um mecanismo de equilíbrio psíquico, seja para aceitar ou negar preceitos relacionados ao sagrado, cabe-nos o respeito e a consideração por qualquer de suas manifestações, pois se trata de algo tão incognoscível quanto a própria definição da palavra Deus. Nada há mais respeitoso do que a integridade da vida e de como se manifestam as crenças que compõem o significado que o ser humano atribui a sua existência.
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