sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Psicologia do Perdão

É da tradição cristã, além de ser um de seus princípios fundamentais, perdoar. Tudo leva a crer que se trata de um imperativo absoluto, sem o que não se ascende espiritualmente. Tornou-se obrigatório, sob pena de condenação a status inferiores, a todo aquele que não consegue oferecer o perdão ao seu ofensor. A realidade é que poucos alcançam sucesso quando desejam seguir este preceito religioso. Isto ocorre pelo equívoco quanto ao significado do perdão. Perdoar não é esquecer nem muito menos se trata de um ato instantâneo a ser executado sumariamente.

Fruto da violência que assola nossa cidade, cuja escala torna o problema uma epidemia calamitosa, é raro encontrar alguém que não lhe tenha sido vítima. Como perdoar o agressor anônimo, o assaltante, que tem sido cada vez mais comum nas ruas, e que geralmente não é mais encontrado? Como perdoar o assassino do filho morto por motivo fútil, muitas vezes por causa de um simples aparelho de celular? Como perdoar quem atirou a bala perdida que matou a criança que se encontrava em plena sala de aula? Difícil perdoar quando se pensa ser um ato instantâneo, absoluto e sem mágoa. Sente-se culpado quem não consegue, neste sentido, perdoar.

Ao se considerar o perdão como um processo, que exige tempo, é possível alcançá-lo com ganho considerável no quesito paz interior. Considere cinco fases do processo de perdoar. A primeira, a legitimação da raiva, cuja presença é o primeiro sinal do incômodo e da insatisfação, requer aceitação como natural emoção que não pode ser evitada. A segunda, o entendimento racional das razões que levaram o outro a agir daquela maneira, por empatia, sem estabelecer julgamento de quem tem ou não razão. A terceira, a consciência de que, sob as mesmas circunstâncias, poderia cometer o mesmo equívoco, visto que todo ato humano deve ser assumido universalmente. A quarta, questionar-se, independentemente da culpabilidade ou dolo do agressor, o que necessita aprender ou integrar à personalidade com a experiência vivida. Esta reflexão profunda, desloca o foco da raiva e do problema para si e para a própria existência, portanto, retira do outro, que continuará com sua responsabilidade. A quinta, diz respeito ao não esquecimento, ressignificando-o, compreendendo como uma proposição da vida com o intuito de algo ensinar a ambos.

Nesta última fase, quem deseja aprender o valor do perdão, deve lançar a Vida o pedido para que o agressor seja ensinado, não por vingança, a não mais agir da forma como o fez. O pedido se estende a que possa haver, de alguma maneira, em qualquer época, um reencontro para que o aprendizado a que foram submetidos, tenha valido a pena e que tenham entendido a razão superveniente para o acontecido.

Viver não é uma experiência unilateral nem a dois, pois o imponderável sempre vai estar permeando e atuando sobre todos os acontecimentos, sejam voluntários ou não.

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