Uma
compreensão mais profunda da Psicologia requer um estudo de mitologia, do
folclore, das religiões bem como das sociedades primitivas com seus modos
inconscientes de estabelecer relações dos indivíduos entre si e com a Natureza.
Em particular, a Mitologia é um campo de estudos do mundo imaginal da
sociedade, composta de mitos que representam, de forma simbólica, o
comportamento humano. Entre as mais próximas da cultura brasileira estão a
mitologia grega e a romana. O filosofo e escritor francês, de origem argelina,
Albert Camus, Nobel de Literatura em 1957, que elogiou o baiano Jorge Amado
quando este ainda era desconhecido, escreveu um famoso livro intitulado O mito
de Sísifo, um ensaio sobre o absurdo. O mito retrata a saga humana para se
livrar da morte, assumindo comportamentos para enganar os deuses, responsáveis
pelos destinos humanos. Sísifo retrata a tentativa humana de enganar,
ludibriar, distorcendo a realidade em seu favor, para alcançar seus objetivos.
Por conta
de sua irredutível tendência em enganar a morte, foi condenado pelos deuses a
rolar uma grande pedra até o cume de uma montanha. Ocorre que, toda vez que
estava para alcançar seu intento, a pedra lhe escapava das mãos, retornando ao
ponto de partida, tendo ele de iniciar tudo de novo. O mito representa o ser
humano que não encontra sentido para a existência, condenado a morrer depois de
uma vida inteira de trabalho e, em seguida, uma velhice cansada e vazia de
significado.
Num certo
sentido, Sísifo é o retrato do ser humano numa sociedade injusta, cheia de
absurdos, obrigado ao labor estafante, sustentando-se numa esperança que não
lhe traz nada no presente, em meio a ausência de quem o conduza a um destino
melhor ou que lhe ofereça uma saída mais digna para sua existência. Qual
Sísifo, o ser humano se arrisca ao proteger-se em demasia, com mecanismos escapistas
e mágicos, eximindo-se do verdadeiro esforço para encontrar uma saída, que
certamente mora dentro dele mesmo.
Artigo publicado no Jornal ATarde de 28.01.2015.
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