Não é novidade que o brasileiro tem o
hábito de se automedicar. Não só por falta de um bom serviço público de saúde
como pelo hábito em buscar soluções mágicas para seus problemas. Quando se
trata de processos psíquicos, a automedicação é quase regra, salvo quando a
gravidade exige consulta mais especializada, contenção química ou quando os
mecanismos de controle pelo tipo de medicação impede o aceso direto ao remédio.
Quando se tem, por exemplo, insônia, dor
de cabeça, tristeza, ansiedade, resfriado, crise de pânico ou uma depressão,
muitas vezes, a automedicação é regra. Recorre-se a amigos, nem sempre médicos,
geralmente pessoas que também se automedicam. Quando se trata de depressão a
questão é mais séria. Não só o diagnóstico, muitas vezes, é equivocado como a
medicação não tem o efeito esperado pela indústria que o fabrica. Cada
organismo reage de uma maneira peculiar, além do fato de que as causas não se
encontram no cérebro, mas na subjetividade psíquica de cada um. Tratar
quimicamente o que não é orgânico intoxica o corpo. Aumentar a captação de
serotonina não atinge as causas da depressão e nem sempre sequer alivia.
Prescritas ou não, as drogas para
depressão são largamente consumidas, enriquecendo os laboratórios em prejuízo
da saúde física e psíquica das pessoas. Recorre-se ao remédio para depressão
por uma falência na compreensão dos processos mentais e da singularidade de
cada ser humano, que precisa compreender-se.
Nunca uma depressão, por exemplo, provocada
pela morte de um ente querido, poderá ser curada com uma medicação, muito menos
devolver a alegria para quem ficou. Bilhões de dólares são gastos sem benefício
direto nem vantagem para a saúde psíquica. Automedicar-se parece ser duplamente
prejudicial a saúde, principalmente no caso da depressão, pois não contribui
para o entendimento das causas nem do propósito da doença, muito menos para que
não haja recidiva. É tão perigoso automedicar-se quanto desconhecer sua
natureza interior.
Artigo publicado no Jornal ATarde de 11.03.2015.
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