Conta-se, na mitologia grega, que o jovem Faetonte indagou a sua mãe sobre quem era seu pai. Com muito orgulho, ela afirmou ser o deus Hélio e que morava em um palácio extremamente iluminado. Sabendo de sua realeza, foi em busca de suas raízes. Ao chegar ao palácio, foi recebido com tamanha alegria que o pai lhe concedeu um desejo. Como Hélio conduzia o Carro do Sol que atravessava a abóbada celeste iluminando a Terra e fazendo o dia acontecer, seu filho pediu para ocupar seu lugar. Como não lhe podia negar o pedido, advertiu o filho que a tarefa era difícil, senão impossível. Hélio ponderou que ele era muito jovem, imaturo e inexperiente no serviço. Disse ainda, que os cavalos que iria conduzir eram muito irascíveis e o terreno extremamente perigoso, íngreme e cheios de abismos. Mesmo assim, Faetonte assumiu a condução do Carro do Sol. Não precisou ir muito longe, pois os cavalos sentiram que eram conduzidos por mãos frágeis e vacilantes. Em pouco tempo, a quadriga deixou a rota e foi espalhando fogo no firmamento, que logo atingiu a terra, incendiando-a. O desastre só não foi maior porque Zeus, temendo uma grande catástrofe, desferiu um certeiro raio sobre Faetonte, fulminando-o instantaneamente. No túmulo de Faetonte consta que alia jazia quem morreu em gesta gloriosa.
O mito retrata a incompetência e imaturidade dos que pensam governar bem, quando querem deixar seu nome para a posteridade ou que o fazem para eleger um sucessor que mantenha o poder dentro de um partido. Atendem aos próprios interesses e alardeiam feitos superficiais. São governantes que não compreendem que o poder não lhes pertence e que são funcionários públicos a serviço do progresso geral, mas, por ignorância, acreditam que são nobres e proprietários do palácio real.
Por vezes utilizam prerrogativas legais, mesmo sabendo que irão prejudicar a sociedade, simplesmente por motivos políticos partidários, atuam para a plateia, à espera de aplausos e de terem seus nomes inscritos na galeria dos heróis salvadores. São como Faetonte, incompetentes e pueris só por querer deixar uma imagem de benfeitores. São perdedores, pois o poder passa e não deixa marcas no coração de ninguém. Serão fulminados pela história, que não polpa os que tripudiam sobre a inteligência e a mentalidade coletiva.
O carro do sol é inexorável e necessita de mãos hábeis para conduzi-lo, pois contempla levar uma sociedade alquebrada pela irresponsabilidade de outros que, fazendo o mesmo, deixaram um rastro de pobreza, insegurança e sobretudo um sistema educacional falido, onde o professor é refém de alunos famintos, perdidos e empoderados contra a qualidade do ensino. Quando será que os governantes vão aprender a fazer o mínimo necessário, com maturidade e competência, saindo depois, no anonimato, consciente de que deu o seu melhor?
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