segunda-feira, 13 de abril de 2020

Loteria

Milhões de brasileiros apostam na loteria, imaginando enriquecer do dia para a noite. Acreditam que a solução de seus problemas esteja em ter muito dinheiro. Seria um pensamento correto se não fosse o modo instantâneo, quase mágico, de como foi obtido. Ter dinheiro pode ser algo muito útil na vida de uma pessoa, permitindo-lhe grandes possibilidades de realizações. Ganhar na loteria implica pular etapas que permitiriam a aquisição de significativas experiências que capacitariam o ganhador à conquista de dinheiro. Essa experiência perdida pode lhe custar a capacidade para bem administrar seus recursos.
É legítimo jogar na loteria, como também é válida a obtenção do prêmio, independentemente de se pular etapas nas quais ocorreria a aquisição daquelas experiências. Porém, é necessária a reflexão sobre a sangria de certa qualidade de energia perdida quando há o vício. O desejo de facilmente ganhar pode, inconscientemente, reduzir os esforços para adquiri-lo pelo suor do trabalho e pela estimulação da criatividade.
A justificativa para a legalização do jogo é o bom emprego dos impostos descontados, administrados pelo Poder Público, cuja utilidade real é vista em programas sociais. Por esta razão, muitos querem que haja a implantação legal de outras modalidades de jogos e de cassinos no país. É preciso avaliar o impacto do jogo livre em uma sociedade pobre, em que o trabalhador ganha muito pouco para sua sobrevivência.
Psicologicamente, o ato sistemático de jogar representa uma tentativa de atender a um complexo psicológico para compensar um sentimento de inferioridade. A intensidade do complexo corresponderá ao tamanho da ambição a ser alcançada. O jogador compulsivo é aquele que sacrifica seus recursos, seu patrimônio e seu tempo para tentar ganhar.
Longe do jogo em loterias, em jogos de azar ou em diferentes tipos de apostas existe o jogo do poder, praticado por aqueles cuja vaidade e ambição são desmedidas. São os que arriscam suas vidas e daqueles que não sabem que são tratados como marionetes pelos que adoecem no jogo político sem ética. São jogadores insensíveis e insanos, cuja consciência fica aparentemente tranquila por se sentirem missionários, salvadores do mundo. Nem sempre os jogadores são políticos, mas certamente atuam de forma semelhante ou em conluio com eles, contribuindo para a demora na construção de um mundo melhor. Jogadores contumazes são doentes, pois desviam suas energias do viver para atender a ambição desenfreada, em prejuízo de si mesmos e dos que os cercam.
Sua fé está a serviço do ganho mágico e da vontade de aliviar-se do trabalho cotidiano, comum a todos que nele encontram dignidade. Mesmo assim, não é acaso ganhar na loteria, pois tudo indica haver uma conjugação de fatores que atuam para que determinada pessoa seja o ganhador. Melhor para quem ganha, porém a Vida lhe exigirá alta capacidade para administrar seu prêmio.

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